Política: o gene que falta aos blumenauenses

Ao tornar independentes quase de uma só vez sete dos 11 distritos que pertenciam a Blumenau em 1934, Aristiliano Ramos alcançou uma de suas intenções: abrir caminho para o clã lageano no Vale do Itajaí. Com novas prefeituras sendo montadas, foi a oportunidade para que fossem nomeados aos novos municípios interventores simpatizantes ao governo do Estado.

O ato que marca na história a influência que os Ramos conquistam em Blumenau e região é quando Getúlio Vargas visita a cidade em 10 de março de 1940 já como presidente, durante o Estado Novo. Ciceroneado pelo então interventor em SC Nereu Ramos, Vargas é recebido pelo anfitrião, o prefeito José Ferreira da Silva. É recepcionado no Teatro Carlos Gomes com festa para 600 convidados. Nereu figura com tranquilidade em Blumenau. No ano seguinte inaugurou o aeroporto na Itoupava Central.

Historicamente Blumenau sempre se opôs ao governo do Estado, relembra a diretora Patrimônio Histórico, Sueli Petry, o que tornou, por vezes, escasso o apoio em causas locais. Ela cita também que é comum políticos que fazem carreira em Blumenau terem nascido em outra cidade. Entre os que cresceram e conquistaram mais expressão, Victor Konder, por exemplo, chegou a ser ministro no fim dos anos 1920. Ele era de Itajaí. Vilson Kleinübing, natural do Rio Grande do Sul, foi prefeito, deputado, senador e governador de SC.

– O Vale do Itajaí sempre tem essa falta de expressão política justamente porque as nossas lideranças não são da cidade. Elas são de outras regiões e aqui passam a viver. E essas pessoas têm voto em todas as regiões de SC, de forma pulverizada – avalia Sueli.

Para o presidente do Conselho de Família da Cia Hering e cônsul honorário da Alemanha, Hans Prayon, a política não está na cultura do blumenauense, que tem vocação às atividades ligadas à economia e desenvolvimento a partir, especialmente, da indústria. Por isso, políticos vindos de outras regiões conseguiram desenvolver carreira a partir de Blumenau.

A falta de vocação política da cidade tem raízes na base, defende Victor Sasse, ex-prefeito de Blumenau. Sasse exemplifica: jogados dentro de um balde, os caranguejos formam uma escada para escapar. Um sobre o outro, se ajudam. Para o ex-prefeito, os políticos blumenauenses não conseguem sair do balde por falta de união e apoio mútuo. O ex-deputado Alvaro Correia e Sasse concordam ao afirmar que a saída para a política blumenauense é a oxigenação das lideranças locais.

Veículo: Jornal de Santa Catarina.
Edição: 13094.
Editoria: Política.
Página: 8.
Jornalista: Daniela Matthes (daniela.matthes@santa.com.br).