O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu, ontem, em reunião com mais de três mil prefeitos empossados em 1º de janeiro, que eles criem dois ou mais turnos de trabalho em suas obras municipais para gerar mais empregos no país. Lula já fizera esse apelo na semana passada, durante evento do PAC em Tocantins. E reiterou ontem que o principal programa de investimentos do governo federal também não sofrerá interrupção de recursos apesar da escassez de crédito internacional. "Cortaremos o batom da dona Dilma, cortaremos o meu corte de unha mas não cortaremos uma obra do PAC seja do tamanho que ela for, porque achamos que ela é a segurança para o momento que o país está vivendo", disse o presidente.
Lula também reforçou o seu discurso de parceria com os prefeitos, afirmando que esta interação foi fundamental para que o PAC e outros programas-chave, como o Bolsa-Família, tivessem êxito. Lula citou as altas taxas de analfabetismo no país e, provocando, disse que o Estado de São Paulo, o mais rico do país, tem uma taxa de analfabetismo de 10%. "Sinal de que estamos fazendo algo errado", assinalou.
O presidente demonstrou profunda irritação com o noticiário dos jornais de ontem sobre as medidas anunciadas pelo governo federal aos prefeitos. Disse que tinha acordado, "virado e que se uma gota de suor caísse num copo, viraria limonada". Prosseguiu afirmando que "ficou triste como leitor porque estão abusando de minha inteligência, porque tem gente que pensa que o povo é marionete, é vaca de presépio. Acabou o tempo em que alguém achava que podia interferir numa eleição porque é formador de opinião", protestou o presidente.
Ele reclamou da imprensa ter chamado as ações do governo – que incluem refinanciamento em até 240 meses das dívidas do INSS, aumento da linha de financiamento do BNDES, chamado de Pro-Vias, para R$ 980 milhões – de pacote de bondades. E foi além, ao citar que um veículo havia utilizado cartas de leitores para dizer que era um absurdo perdoar dívidas de prefeitos corruptos. "Eu fiquei pensando como é fácil julgar as pessoas. Como é fácil condenar as pessoas previamente sem saber sequer o que elas estão fazendo. Não deram sequer a oportunidade para vocês mostrarem que não são os ladrões que escrevem que vocês são. Não é possível que a gente possa se calar diante de tamanha ofensa", declarou o presidente.
Lula também negou que a estratégia de reforçar o caixa das prefeituras, pedindo que os prefeitos invistam no PAC, seja uma maneira de fortalecer a pré-candidatura de Dilma Rousseff à presidência.
"São pessoas pequenas. Eu poderia não falar isso aqui porque um presidente precisa ter postura. Posso perder minha postura, mas não perco minha vergonha e meu caráter. Posso perder, mas não posso permitir essa comparação grotesca com uma reunião que tem o objetivo de mudar o patamar entre os entes federais", atacou.
Veículo: Jornal Valor Econômico.
Editoria: Política.
Jornalista: Paulo de Tarso Lyra, de Brasília.