Mais uma vez, agora em ano eleitoral, centenas de prefeitos reuniram-se em Brasília para apresentar ao poder central as demandas de suas cidades e para reclamar das dificuldades que enfrentam nos governos municipais. Curiosamente, o fato novo foi a polêmica em torno de um vídeo – O Calvário dos Prefeitos para Conseguir Recursos – A história do pires na mão – que narra, em tom humorístico, mas acrítico, a peregrinação do gestor municipal. O vídeo, um desenho animado produzido pela Confederação Nacional de Municípios, acabou não sendo exibido, por divergências de caráter eleitoral, eis que os três principais pré-candidatos adotaram posições conflitantes em relação a tal exibição. O vídeo acabou na internet, disponível para milhões de internautas.
Independentemente da polêmica, o que importa considerar é o conteúdo da manifestação. Trata-se, de fato, de uma ficção que denuncia parlamentares e governo e que é um libelo contra a burocracia e o centralismo da União. Narra a dificuldade de aprovar uma emenda que garanta verba ao município, mostra como o país se consome em gastos inúteis e em viagens dispensáveis, revela a necessidade de beija-mão a congressistas e a governantes, aponta exigências que consomem recursos e energia e que muitas vezes são mais burocráticas que necessárias e termina com a prisão de um prefeito que fez determinada obra confiando em recursos não liberados e que, pressionado pelos credores, usou verbas municipais em vez dos recursos orçamentários denegados.
A polêmica chama a atenção para a necessidade de que todas as esferas da federação se aperfeiçoem e funcionem para garantir que, no município, no Estado ou na União, os direitos sejam respeitados, as demandas atendidas e a Constituição cumprida. Os compromissos assumidos pelos três principais pré-candidatos – José Serra lançou a ideia de uma força nacional permanente para calamidades, Marina Silva a de criar um sistema único de educação e Dilma Rousseff de ampliar os recursos destinados à saúde – devem ser colocados entre as reivindicações a serem cobradas. Mas o que importa implantar e que é uma carência histórica nas relações entre o poder central e os municípios é um sistema ágil de liberação dos recursos, sem que os processos sejam submetidos a discriminações ou a favorecimentos de político.
Veículo: Jornal de Santa Catarina.
Edição: 11943.
Editoria: Opinião.
Página: 2.