Blumenau, cidade jardim. O título de lugar limpo e organizado sempre foi usado como uma das referências do município. Porém, se por um lado há preocupação em manter a cidade organizada, por outro há muito o que melhorar quando o assunto é reciclagem. Se comparada a Indaial, Pomerode e Timbó, Blumenau não tem do que se orgulhar: reciclou apenas 4,6% das 77 mil toneladas de lixo produzidas ano passado enquanto as vizinhas reciclaram 16,5% das 23,9 mil toneladas que produziram juntas ao longo de 2012. Na prática, Blumenau gera três vezes mais resíduos e recicla três vezes e meia menos do que elas. O resultado: os 309 mil blumenauenses reciclam menos (300 toneladas) que os 119 mil moradores das três cidades vizinhas junts (330 toneladas).
Cansado de guardar o lixo reciclável toda vez que o caminhão da Reciblu não passava, o zelador do Edifício Frankfurt, na Vila Nova, José Rocha, disponibilizou o material a um casal de coletores.
– Separava todo o material, bem direitinho, mas daí tinha que guardar tudo pois o caminhão não vinha. Se deixasse na calçada, andarilhos abriam os pacotes e faziam sujeira. Acho que se tem um dia marcado, eles deveriam passar – reclama o zelador.
Hoje, o serviço cobre metade da cidade, no entanto, no dia que faltam coletores de lixo, o caminhão nem sai do galpão.
A falta de recolhimento do material separado é a principal reclamação recebida pelo Samae. O problema é reconhecido pela autarquia.
– Estamos tão incomodados quanto a população com a deficiência do serviço. Não podemos perder a cultura que muitos já adotaram de separar o lixo – afirma o presidente do Samae, Valdair Matias.
Deise Cardoso, assistente administrativa da Associação de Trabalhadores Coletores de Materiais Recicláveis de Blumenau (Reciblu), responsável pela coleta, admite problemas com os associados:
– O maior deles é a falta de compromisso dos coletores, que às vezes não vem trabalhar. Por se tratar de associação, as pessoas não têm carteira assinada, e não temos como obrigá-las a vir.
Quebra na coleta reduz ainda mais reutilização do lixo
O Reciblu existe desde 1999. Em 2009, uma parceria entre a prefeitura, por meio do Samae, e a associação resultou na entrega de dois galpões, próximos ao Terminal do Aterro, para os coletores. Daquele ano para o seguinte, a coleta saltou de 119 toneladas por mês para 261. Porém, em dezembro do ano passado, foram recolhidas 236 toneladas. A associação, que conta atualmente com 40 associados, já chegou a ter mais de 80 funcionários em três turnos. Hoje, só há dois.
– Não dá para reclamar que não temos apoio da prefeitura. O difícil é encontrar pessoas que queiram trabalhar direito – lamenta Deise.
Além do espaço físico, o município disponibilizou água, luz, motorista e caminhões para que os associados fizessem o recolhimento do material pela cidade. O valor arrecadado com a venda do lixo é distribuído entre eles. Uma empresa de Tijucas compra os produtos reciclados.
Além da coleta irregular, a reciclagem em Blumenau tem mais um obstáculo: a falta de consciência das pessoas. Papel higiênico, restos de comidas e objetos não recicláveis são encontrados durante o processo de triagem na Reciblu. A quebra pode chegar a metade do que é recolhido.
O caminho do lixo (anexo 592).
A reciclagem na região (anexo 593).
Veículo: Jornal de Santa Catarina.
Edição: 12742.
Editoria: Geral.
Página: 16.
Jornalista: Tatiana Santos (tatiana.santos@santa.com.br).