Da amizade à divisão territorial

Até culminar na separação abrupta de Blumenau e os distritos, ação tida como um vingança política por parte do clã Ramos, a história entre a família lageana e os Konder começou com capítulos de amizade e confiança. O sonho da família de comerciantes de Itajaí era entrar para a política e ascender socialmente. Um dos caminhos mais tradicionais para alcançar esse objetivo, no início do século 20, era forma-se na Faculdade de Direito de São Paulo. Para lá partiram os irmãos Victor e Adolfo Konder. O mais velho, Marcos, ficou em Itajaí para cuidar dos negócios da família. Na capital paulista conheceram Nereu Ramos, filho do então presidente de SC (cargo equivalente ao de governador) Vidal Ramos.

O relacionamento entre os amigos se estreitou até que em 1920 Victor noivou com Ruth, filha de Vidal. Victor se mudou para Blumenau.

Com alemão fluente – condição obrigatória para prosperar na terra de Dr. Blumenau – e amigo próximo do juiz da comarca, Pedro Silva – cunhado de Nereu -, foi fácil conquistar clientes e crescer em Blumenau. Envolveu-se na política local. Em 1919 elegeu-se deputado, permanecendo no cargo até 1924. Nereu também exercia o cargo na Assembleia. Ramos e Konder então pertenciam ao mesmo e único partido de SC: o Partido Republicano Catarinense (PRC). As alianças dentro da sigla determinaram o começo do fim da história de amizade e apoio nas urnas.

No início dos anos 1920 Hercílio Luz governava o Estado. O PRC tinha liderança bipolarizada com o governador e Vidal, então senador. A disputa para encabeçar o partido ganhou novos contornos quando Luz não permitiu a representação dos Ramos às eleições para deputado federal. O então governador destituiu Vidal da liderança do PRC em Lages. Para piorar os Ramos apoiaram à eleição presidencial um candidato opositor ao de Luz. Os Konder ficaram ao lado de Luz.

Adolfo era secretário de Fazenda, Viação e Obras públicas. Mais tarde Victor assumiu o lugar deixado por ele. O noivado com Ruth não resistiu. Após quatro anos, Victor desistiu.

Ele fez surgir a primeira ligação entre a Florianópolis e o continente, ponte que era o sonho de Hercílio Luz. Então despertou a atenção do presidente Washington Luís. Em novembro de 1926 se tornou ministro da Viação e Obras Públicas e ficou no cargo até a Revolução de 1930. Depois ficou exilado na Europa.

Getúlio Vargas, que liderou o movimento revolucionário e em SC teve o apoio dos Ramos, subiu ao poder. O PRC foi extinto. De volta à elite política, o clã lageano picotou o mapa de Blumenau e vingou o período de isolamento político. Victor voltou a Blumenau em 1934 e não se elegeu vereador. Assim desistiu da política.

Veículo: Jornal de Santa Catarina.
Edição: 13094.
Editoria: Política.
Página: 8.
Jornalista: Daniela Matthes (daniela.matthes@santa.com.br).