A linha do horizonte de Botuverá é verde. Para qualquer lado que se olhe na cidadezinha italiana no meio do Vale do Itajaí, ao fundo está um pouco da mata que a envolve. Para muitos o verde significa esperança, que se transforma no dinheiro conquistado com o trabalho – que não falta por lá. Por isso, Botuverá, com pouco menos de 5 mil habitantes, é um dos municípios com índice de igualdade de renda mais alto do país.
Análise da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico – organização que reúne 34 países – apontou os 10 municípios mais igualitários do Brasil: a cidadezinha do Vale ficou na segunda posição porque os mais ricos ganham apenas 4,1 vezes mais do que os mais pobres. Perdeu para a também pequena São José do Hortêncio (RS), onde os mais abastados ganham quatro vezes mais que a faixa menos favorecida. No Brasil a diferença entre os pontos mais extremos da sociedade é de 22,7 vezes.
A família de Maria Eroni Vaz, 31 anos, chegou à verde Botuverá há oito anos. O marido Adir de Senna, pedreiro, veio em busca do trabalho que faltava em Guarapuava, no Paraná. Encontrou um lugar para estabelecer a família. O filho mais velho do casal, Igor, nove anos, frequenta a escola enquanto a irmãzinha Yasmin, de um ano e quatro meses, se diverte na pracinha em frente à igreja da Paróquia São José, bem no Centro.
– A vida aqui é muito boa. Tem emprego, agora tem creche e eu já matriculei minha filha. Assim que abrir (a creche), volto a trabalhar – conta a operária de máquinas de fiação.
Além do segmento têxtil, Botuverá tem vagas na mineração, já que é sede das duas maiores empresas de extração de calcário do Sul do país. Apesar da industrialização a agricultura persiste, mas as famílias, que já fizeram da cidade uma das principais produtoras de fumo no Estado, agora diversificam a produção.
Foi a opção de Isaia José Pedrini, 65 anos, que deixou de plantar fumo para apostar em uvas – matéria-prima para o vinho colonial – e ovos. Também cultiva milho, feijão, batata e aipim e usa parte da área para reflorestamento de eucaliptos, que vende como lenha para indústrias. Criou os três filhos com o dinheiro que saiu da terra. Um deles ainda trabalha com o pai. Uma das filhas, Tatiani Pedrini de Souza, 29, saiu da agricultura e é analista financeira da cooperativa de crédito.
– Saí daqui pra estudar mas voltei porque, de todas as cidades que conheci, é a melhor pra formar uma família. Aqui meu filho anda solto, de pé no chão, não tem violência, tem trabalho pra todo mundo. Não penso em sair – garante.
Uma forma de deixar os cidadãos em igualdade é ajudar quem precisa mais. Foi o que aconteceu com Agtha Iaskio, 19. Ela veio de Curitiba para morar com o irmão há sete anos. Casou, engravidou, separou e se viu sem ninguém. Foi quando procurou, e encontrou, apoio. Recebeu R$ 102 do Bolsa-Família por quase um ano e hoje se orgulha de dizer que não precisa mais do benefício – a cidade, que já teve 116 famílias no programa, hoje soma 24.
Veículo: Jornal de Santa Catarina.
Edição: 13138.
Editoria: Economia.
Página: 8.
Jornalista: Aline Camargo (aline.camargo@santa.com.br).