O dia depois da enchente

Há 22 anos que a comunidade de Rio dos Cedros não presenciava tamanha agressividade do rio que dá nome à cidade. Mesmo que nos últimos cinco anos e meio o município tenha passado por 11 enchentes, o prefeito Fernando Tomaselli afirma que desde maio de 1992 não se via tanta água invadindo as ruas da cidade. A última grande inundação, segundo Tomaselli, foi na tragédia de 2008 – o rio alcançou a marca de 7,94 metros naquele mês de novembro. Depois disso houve alguns casos de alagamentos, mas nada que causasse desespero. Mas neste ano foi diferente – o prefeito não descarta a possibilidade de que o nível ultrapasse os 9,25 metros da enchente de 92.

– Choveu demais em muito pouco tempo. Estamos preparados para níveis até 8 metros, acima disso é o sinal de emergência, não temos mais controle. E as pessoas não acreditavam muito que as previsões fossem se concretizar. Algumas levantaram os móveis e esperaram aqueles 70, 80 centímetros de sempre. Mas não foi isso que aconteceu – conta Tomaselli.

Moradora de Rio dos Cedros desde que nasceu, a professora Fernanda Carlini, 30 anos, confirma a história:

– Não via uma enchente assim desde 92. Minha casa foi invadida pela água, agora preciso esperar baixar para voltar. Eu não achava que isso fosse realmente se tornar realidade.

O prefeito ressalta que o plano de ação para enchentes é elaborado cada vez mais rápido, mas que os sustos servem de aprendizado:

– A mudança no nosso trabalho não vai ser estrutural, e sim comportamental. Agora as pessoas terão mais compreensão e estarão mais conscientes quanto à cautela em situações emergenciais.

No Centro da cidade a travessia só podia ser feita de barco ontem de manhã e de tarde. Mas mesmo assim, somente os bombeiros tinham permissão para transitar pelo rio. A Defesa Civil decidiu esperar que a água baixasse para 7 metros antes de começar a transportar as pessoas que estavam ilhadas em casas e nos comércios do município. Mesmo assim, o desespero fez moradores e comerciantes se arriscarem na correnteza para tentar salvar seus pertences.

– Estimo que 70% do nosso comércio tenha sido perdido. Foi um prejuízo financeiro gigantesco, cujas proporções somente saberemos com certeza quando as águas voltarem ao nível normal – explica Tomaselli.

O prefeito calcula que cerca de 100 famílias estejam nos seis abrigos ativados. Quando a água começou a baixar nos bairros ontem à tarde, muitas famílias já começavam a voltar para casa. Integrante da Defesa Civil de Rio dos Cedros, Fábio Eduardo Castellain, 34, mal podia esperar para ver a mulher e os filhos:

– Estou trabalhando desde sábado, dormi duas horas nestes quase três dias porque minha casa fica do outro lado da ponte. É um misto de gratificação e frustração ficar aqui: ao mesmo tempo em que ajudo os outros, não posso estar com a minha família. Mas acho que agora isso vai se resolver – diz, sorrindo.

No total, 20 pessoas da Defesa Civil e cerca de 50 da prefeitura ficaram de plantão para auxiliar a comunidade durante a enchente.

Civil e cerca de 50 da prefeitura ficaram de plantão para auxiliar a comunidade durante a enchente.

Veículo: Jornal de Santa Catarina.
Edição: 13704.
Editoria: Geral.
Página: 12.
Jornalista: Camila Iara (camila.iara@santa.com.br).