O governo reforçou ontem as medidas para tentar aliviar os efeitos da crise financeira global sobre a produção rural. O ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, anunciou a criação de uma linha de crédito para refinanciar uma parcela de R$ 1,2 bilhão em dívidas vencidas com operações de investimento.
"Falta dinheiro no Centro-Oeste para [quitar] dívidas de investimento. Será estudada uma linha de crédito dos próprios credores", afirmou Stephanes após reunião com o ministro da Fazenda, Guido Mantega. E descartou uma nova rolagem dessas dívidas rurais: "Não vai haver nova prorrogação, mas pode haver linha", disse ele.
O governo ainda estuda reduzir os depósitos compulsórios para financiar a compra de carteiras de crédito rural de instituições médias e pequenas por bancos, públicos e privados, com maior atuação no setor, apurou o Valor. Seria uma redução "carimbada", específica para esse fim.
O ministro Stephanes também confirmou ontem a criação de uma linha de crédito de até R$ 2,5 bilhões, a ser operada pelo Banco do Brasil, para financiar o capital de giro de tradings, agroindústrias e fornecedores de insumos.
A nova linha, que terá orçamento inicial de R$ 1 bilhão, será lastreada em recebíveis, como a Cédula de Produto Rural (CPR), emitidos por produtores para antecipar recursos dessas empresas para custear o plantio da safra. Os recursos sairão da elevação de 65% para 70% nas exigibilidades sobre os depósitos em poupança rural, cujo custo de captação é mais barato do que as demais fontes. A medida foi autorizada pelo governo na semana passada e permitiu o uso de até 40% dessas exigibilidades no financiamento de empresas com operações no setor rural.
O governo tentará, ainda, reforçar a realização de leilões do Banco Central para ofertar crédito a operações de Adiantamento sobre Contrato de Câmbio (ACC) para auxiliar no financiamento do plantio de algodão e soja. A Fazenda descartou leilões de ACCs "carimbados" para o setor rural. "O BC já vem fazendo leilões, mas teremos reunião na terça-feira com tradings, produtores de algodão e soja, cooperativas e grandes bancos para saber por quê as tradings ainda não estão tendo acesso ao ACC. Mas não vai faltar dinheiro", garantiu Reinhold Stephanes.
Na reunião de ontem, também ficou decidido que o governo reforçará o caixa da Conab para evitar a falta de recursos para sustentar os preços agrícolas na época da comercialização, quando a maior parte da safra é ofertada no mercado de uma só vez, o que deprecia as cotações internas. O orçamento enviado pelo Executivo ao Congresso para 2009 prevê R$ 3,815 bilhões para os instrumentos de política agrícola, mas todos os operadores de mercado garantem ser necessário pelo menos outros R$ 5 bilhões para sinalizar os níveis de preços e garantir renda ao produtor.
"Há R$ 4 bilhões no orçamento para comercialização e, se for necessário, o governo vai manter preços e repor estoques", disse ontem Stephanes. O ministro afirmou, ainda, que serão tomadas medidas específicas para garantir o plantio da safrinha de milho em 2009. O segmento reclama do excesso de oferta e das dificuldades para exportar o excedente.
Veículo: Jornal Valor Econômico.
Editoria: Agronegócios.
Jornalistas: Mauro Zanatta e Arnaldo Galvão, de Brasília.