Vias estão obstruídas

Um caminho que pode durar duas horas, foi percorrido em quatro na manhã de ontem. Florianópolis e Blumenau ficaram mais distantes depois da chuva que deixou boa parte do percurso debaixo dágua. Rodovias interditadas e cidades isoladas completavam o trajeto.

Até a noite anterior, a cidade do Vale do Itajaí estava ilhada. Muitos acessos continuavam interrompidos durante a manhã de ontem, mas com tratores e pás, pouco a pouco o barro era removido das pistas.

O início da viagem entre as duas cidades foi pela BR-101. Pelo caminho, pastos inteiros viraram lagos e o gado procurou pequenas elevações de terra para se refugiar da água. No quilômetro 166, o asfalto não parou a água, que ocupou meia pista. Comunidades à beira da rodovia também ficaram submersas. Em uma, um solitário morador ilhado em sua residência de madeira fazia sinais pela janela para explicar que estava esperando o nível da água baixar para poder sair do local.

Em Itajaí, bairros desapareceram sob a água acumulada nos níveis mais baixos. Eurico José Rodrigues, 72 anos, teve que deixar a casa na madrugada de sábado e espera em sua carreta, em frente à rua alagada, uma oportunidade de entrar na residência para tirar pertences pessoais.

– Saí com a roupa do corpo. Perdi tudo lá dentro – lamentou-se.

Entrando em Brusque, carros que tentavam seguir caminho para Blumenau não passaram do Pavilhão da Fenarreco. Foram obrigados a dar meia volta pelas águas do Rio Itajaí, que subiu até encher a rua. A melhor saída era a Rodovia Ivo Silveira, que leva até Gaspar. No entanto, árvores, pedras e muita terra obrigavam motoristas a desviarem constantemente do traçado. Em Bateias, entre as duas cidades, uma ambulância foi atingida por um dos deslizamentos e por uma máquina de escavação. Uma casa na beira da pista também foi atingida e a família teve que deixar o local.

Em Gaspar, várias ruas ficaram sob a água. O caminho pela SC-470 margeando o Rio Itajaí mostrou a força da correnteza. Buracos formados na beira do asfalto davam sinais do que seria encontrado mais a frente.

Finalmente, a divisa com Blumenau aparece e o cenário se assemelha ao de uma cidade em guerra. Caminhões do Exército, ambulâncias e carros de polícia cruzavam as ruas. No Centro, a lama invadiu casas e lojas. Em uma das principais, a 7 de Setembro, a lâmina de barro chegava ao calcanhar de quem se arriscava a colocar os pés para fora. Enquanto isso, o Rio Itajaí continuava correndo com força, alaranjado, lembrando a todos que é uma ameaça constante.

Veículo: Jornal Diário Catarinense.
Edição: 8267.
Editoria: Reportagem Especial.
Página: 10.
Jornalista: Tayana Azevedo, de Blumenau.