Com a nova norma ortográfica, muitos livros terão de ser "reeditados''. Ou será que a palavra correta aqui seria "re-editados''? Pois é, a forma correta dessa palavra não é definida claramente pelo acordo ortográfico, que entra em vigor dia 1º. O excesso de "etc.'' e a falta de exemplos que ilustrem a aplicação das novas regras, além da subjetividade de certos pontos do acordo, que dá margem a interpretações, são apontados por professores de português como causa de dúvidas.
As novas regras devem manter aquecidos os debates sobre como escrever corretamente pelo menos até fevereiro, quando a Academia Brasileira de Letras (ABL) anuncia a divulgação do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (Volp), que trará a grafia oficial das palavras.
As controvérsias já fizeram editoras de livros didáticos como suas "vítimas''. A Ática, por exemplo, retirou momentaneamente de um de seus livros didáticos, agora impressos na nova norma, uma lição baseada em um anúncio publicitário com palavras formadas por hífens – tema onde estão concentradas as principais dúvidas. Já os dicionários em versão de bolso já atualizados trouxeram conflitos na grafia de palavras.
A palavra "pára-raios'' (forma como era grafada na antiga regra e que perde o acento na nova) é agora indicada como "pararraios'', no Minidicionário Aurélio da Língua Portuguesa', e "para-raios'', no Meu Primeiro Dicionário Houaiss' e no Minidicionário Houaiss.
A dúvida ocorre porque o acordo diz que devem ser aglutinadas, sem hífen, as palavras compostas quando "se perdeu, em certa medida, a noção de composição'', conceito usado para gerar a palavra "paraquedas''.
– A noção de composição é um pouco subjetiva. Por dedução, interpreta-se o que foi adotado para "paraquedas', que perdeu o hífen. Trata-se de um objeto em si. Portanto, a grafia correta é tudo junto – afirma Carlos Mendes Rosa, editor-chefe de livros universitários e dicionários da Editora Ática – entre eles o Minidicionário Luft – , que também adotou "pararraios''.
O que muda na escrita |
De acordo com os especialistas, 0,45% das palavras brasileiras sofrerão alterações, ao passo que em Portugal haverá mudanças em 1,6% dos vocábulos. As regras que mudam são as seguintes: |
> Novas letras – há a incorporação do "k", do "w" e do "y" ao alfabeto. O número de letras passa de 23 para 26. |
> Trema – deixa de existir. A grafia passa a ser: linguiça e frequente. |
> Acentos diferenciais – serão suprimidos acentos como o de "pára", do verbo parar. |
> Acentos agudos de ditongos – somem os acentos de palavras como "idéia", que vira "ideia". |
> Acento circunflexo – somem os acentos de "vôo" ou de "crêem". |
> Hífen – palavras começadas por "r" ou "s" não levarão mais hífen, como em anti-semita (ficará "antissemita") ou em contra-regra (ficará contrarregra). |
Alterações na história |
> Quem foi alfabetizado há mais de 65 anos passará pela terceira reforma ortográfica oficial no Brasil. |
> As anteriores ocorreram em 1943 e 1971. A de agora é a mais ampla, por envolver os oito países que falam o português. Antes, só havia dois países e as colônias. |
> Em 1943, após longo processo de discussão com Portugal, a Academia Brasileira de Letras (ABL) publicou um Formulário Ortográfico que revia e simplificava a grafia da língua. Oficializado naquele ano, o formulário instituiu o acento diferencial de timbre em palavras como "gêlo", "almôço" e "pôrto", para diferenciá-las dos verbos "gelo", "almoço" e "porto". |
> Na reforma de 1971, o Brasil simplificou ainda mais, eliminando 70% das diferenças de grafia com os portugueses. Aboliu-se a maioria dos acentos diferenciais (deixaram de existir formas como "sêde" e "gêlo") e acentos subtônicos (como em "sòmente", "pèzinho"). |
Veículo: Jornal Diário Catarinense.
Edição: 8300.
Editoria: Geral.
Página: 20.