E agora, como fica?

Enquanto a Academia Brasileira de Letras (ABL) não padronizar o vocabulário oficial, o que ocorrerá possivelmente em fevereiro, haverá uma série de dúvidas em torno da grafia de certas palavras.

Especialistas divergem, por exemplo, sobre como ficará pára-raios. No Minidicionário Aurélio da Língua Portuguesa, está pararraios. No Meu Primeiro Dicionário Houaiss, para-raios.

As diferentes interpretações, entre dicionaristas, são consideradas normais. Elas serão resolvidas em fevereiro, quando a ABL definir o novo Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (Volp). Autor do Guia Prático da Nova Ortografia – As Mudanças do Acordo Ortográfico, o professor Paulo Flávio Ledur observa que a maior dúvida se relaciona ao emprego do hífen nas palavras compostas em que se perdeu a noção de composição. Ledur exemplifica com pára-quedas e seus derivados – pára-quedista e pára-quedismo. Acredita que perderão o acento e o hífen, tornando-se paraquedas, paraquedista e paraquedismo.

– Trata-se de norma muito subjetiva, mas suspeita-se de que a ABL inclua outros casos, especialmente aqueles em que o primeiro elemento é verbo: parachoque, pararraio, guardachuva – esclarece o professor.

Outra polêmica envolve o uso do hífen com os prefixos terminados em B (sub, sob, ab) quando seguidos de R e B. Ledur diz que alguns gramáticos e dicionaristas, como a equipe de Houaiss e o acadêmico Evanildo Bechara (da ABL), utilizam o hífen. Escrevem sub-regra e sub-reptício. Já outros se omitem ou não usam o hífen, como o grupo do Aurélio.

Ledur segue a corrente de não usar o hífen nesses casos. Assim, as palavras seriam grafadas como subreptício, subreino, subregra e abrogar.

– Qualquer interpretação contrária ofende o acordo ortográfico, que, numa lista parcial de prefixos que inclui sub, afirma ocorrer hífen só em dois casos, não incluindo os acima referidos – diz.

No nosso dicionário escolar, apenas cerca de 5% dos verbetes sofrem alteração. Mas, a curto prazo, o acordo não vai abrir mercado para nós. É uma reforma ortográfica, não semântica.

JORGE YUNES, presidente da Associação Brasileira de Editores de Livros (Abrelivros)

Veículo: Jornal de Santa Catarina.
Edição: 11512.
Editoria: Geral.