Teremos um Plano de Encostas

ENTREVISTA JOÃO PAULO KLEINÜBING, PREFEITO

Daiane – Para as famílias acostumadas com uma grande área de terra, a prefeitura prevê alguma alternativa, casos elas se recusem a ir para apartamentos?

Kleinübing – Justamente por isso que a gente trabalha com um conjunto de casas e apartamentos. Vamos ter que trabalhar com critérios. As famílias maiores, vamos privilegiar em casas e as menores terão possibilidade do apartamento. Mas os critérios serão definidos pela Assistência Social.

Daiane – Quando teremos a lista de áreas condenadas?

Kleinübing – O prazo de interdição é de 90 dias, inicialmente. Em 83 e 84, depois das grandes enchentes, deu-se origem ao atual Plano de Enchente. Um dos principais produtos deste plano é que todos saibam qual a cota de enchente da rua, e a qual abrigo se dirigir. Agora, a Defesa Civil vai acompanhar o rio, a encosta, o gás, enfim, todas as formas de risco que o município tem. O primeiro trabalho a ser feito é definir quais são estes riscos. A partir daí, vamos estabelecer qual o nosso plano de ação em cada ocorrência, e um novo produto vai sair daqui: o Plano de Encosta. Ele vai ter a classificação de risco de cada área da cidade e níveis de alerta em função do volume de chuva. Teremos que investir em um sistema de monitoramento de chuva, instalar pluviômetros em vários pontos da cidade.

Rodrigo – Os recursos demoram agora, que é uma situação de emergência. O senhor acredita que possam vir para isso?

Kleinübing – Se nós não tivermos um projeto pronto para apresentar, os recursos não vêm mesmo. Nós vamos buscar. Outro trabalho que a Defesa Civil vai fazer é o que a gente chama de agente comunitário da Defesa Civil, nos mesmos moldes dos agentes comunitários de saúde, que recebem pagamento e orientam a comunidade.

Fabrício – Outro dia, notáveis se reuniram em Joinville e chegaram à brilhante conclusão de que foi o excesso de chuva que causou os estragos. A que conclusão chegamos sobre o desastre? A impressão que se tem até agora é que não há conclusão alguma.

Kleinübing – A função da Diretoria de Geologia não é reinventar a roda. A questão é estudar cada vez mais, compreender o que está acontecendo e principalmente propor solução de contenção, orientar o uso e ocupação da cidade. A causa foi a chuva, isso é fato. Potencializada, em algumas áreas, por ocupação inadequada. Isto também é inegável.

Daniela – Prefeito, há esta urgência das casas. Muitas escolas e creches estão sendo usadas como abrigos, mas as aulas estão prestes a começar.

Kleinübing – Tomamos a decisão de trabalhar com moradias provisórias. De todas as alternativas que avaliamos, esta era a mais adequada, tanto do ponto de vista de tempo quanto de qualidade. Até o dia 28 vamos conseguir fazer a remoção dos últimos abrigos. Estamos atrasando em cinco dias o ano letivo da nossa programação inicial. Não é nada intransponível numa situação anormal que nós ainda estamos vivendo. A calamidade ainda não parou.

Daiane – Se houver resistência das famílias para morar nos galpões, o que será feito?

Kleinübing – Nós todos queremos a mesma coisa. E é preciso separar a tentativa de uso político da situação. O município nunca se negou a resolver. Mas se a cidade não estiver unida, vai ser mais difícil ainda. Não queremos cair na tentação de construir casas de qualquer jeito, as casas não se produzem num passe de mágica e não há um centavo liberado ainda para isso. A MP (Medida Provisória 448) de R$ 1,6 bilhão, na verdade, é de R$ 360 milhões.

Rodrigo – É pouco dinheiro?

Kleinübing – Sim, é pouco dinheiro. Temos em Blumenau um prejuízo na infraestrutura de R$ 380 milhões. Se todos estes R$ 360 milhões viessem para Blumenau, ainda assim não daríamos conta de tudo.

Luís – O senhor falou muito em conscientização, em prevenção. Mas, com relação à fiscalização das áreas que foram desocupadas, não seria a hora de acelerar um pouco este processo? Alguns moradores estão voltando.

Kleinübing – Alguns moradores infelizmente retornaram, contra a orientação do município, e estão sendo orientados a novamente deixar as casas. Temos trabalhado no convencimento do risco que elas estão sofrendo. Em casos extremos, a partir da avaliação de áreas de risco, até demolimos algumas residências.

Giovana – Já houve alguma demolição?

Kleinübing – Me parece que sim, mas eu não tenho o relatório final. A partir do momento que determinada área for considerada inadequada para moradia de forma definitiva, vamos inclusive suspender a prestação de serviços públicos, como luz e água.

Giovana – É evidente que o município precisa de dinheiro. Mas, ao mesmo tempo, a prefeitura criou 24 novos cargos comissionados, com custo de quase R$ 1 milhão por ano. Não é um contrassenso?

Kleinübing – Muitos deles eram absolutamente necessários, até pela criação de novas funções. A própria reformulação da Defesa Civil, a criação da Diretoria de Geologia, até para preparar a cidade daqui para frente. E ainda assim nós estamos com menos cargos do que havia quando eu assumi a prefeitura.

Giovana – Quantos são hoje?

Kleinübing – Trezentos e noventa e sete. Eram quatrocentos e alguma coisa.

Evandro – Na reforma foi garantida a separação da Vila Germânica e da Secretaria de Turismo, que tinham diretoria única. Porque se voltou atrás?

Kleinübing – Tivemos um entendimento de que são ações distintas. O Parque Vila Germânica é um dos equipamentos de promoção da cidade. À Secretaria de Turismo cabe o planejamento do turismo como um todo.

Rodrigo – No final do ano passado, o senhor havia estimado que a recuperação da Via Expressa se daria em três meses…

Kleinübing – Está mantido e certamente começa no início de março. É o governo do Estado quem vai realizar.

Rodrigo – E isso é melhor ou pior?

Kleinübing – Melhor é que a obra saia. Por quem vai ser realizada, para a população isso não é importante.

Fabrício – Mas isso foge do princípio da descentralização?

Kleinübing – Isso quem pode responder é quem tomou a decisão, não fui eu.

Fabrício – Foi uma decisão difícil a ser tomada, principalmente porque o PMDB faz parte da sua base aliada?

Kleinübing – O governo colocou suas questões para que o plano de trabalho seja único e a prestação de contas também. E o governo vai executar a obra.

Rodrigo – Mas se o recurso viesse para vocês gerirem, isso agilizaria o processo?

Kleinübing – Agilizaria, mas são 108 municípios em situação de calamidade ou de emergência. E a Defesa Civil nacional tomou a decisão de fazer um convênio só para o Estado, que faria o gerenciamento disso. Não faço questão de fazer obra.

Daiane – Tendo em vista que temos sérios problemas em algumas vias, não seria a hora de interferir para que a passagem de ônibus ficasse mais barata?

Kleinübing – Hoje, um dos maiores impactos que a nossa tarifa tem é o volume de gratuidades, cerca de 20 mil carteiras. Joinville tem muito menos carteira. Isso tem um impacto significativo. A conta da tarifa é simples: quanto custa dividida por quantas pessoas pagam.

Daiane – Como estamos em calamidade, não seria melhor retirar esta gratuidade de uma parcela para beneficiar um número maior de pessoas?

Kleinübing – Esta discussão é da sociedade, não pode ser só da prefeitura. Para melhorar o transporte e reduzir o preço da passagem, precisamos melhorar alguns pontos do trânsito da cidade através da criação dos corredores de serviço. O aumento da velocidade média faz o ônibus ser competitivo com relação ao carro e isso traz de volta passageiros ao sistema e ajuda a reduzir determinados custos, como manutenção e também o número de ônibus circulando. Os dois maiores custos são pessoal e combustíveis. Estes números também são públicos.

Giovana – Mas até agora (terça-feira) esta planilha não foi divulgada.

Kleinübing – A cada revisão, o Seterb divulga no site e nos próprios terminais urbanos. Vou cobrar isto. É obrigação nossa fazer a divulgação e nós sempre fizemos. É procedimento padrão e o contrato prevê isto (no dia seguinte a planilha foi divulgada no site do Seterb).

Fabrício – Deste relatório também consta o lucro das empresas?

kleinübing – Consta. O contrato prevê qual a margem de remuneração sobre o capital pago através da tarifa.

Evandro – Quando qualquer agência reguladora reajusta preços, leva em conta também a questão política. Pelo momento que a cidade vive, não era o caso de aliviar o bolso do cidadão?

Kleinübing – Causaria um desequilíbrio que teria de ser pago de alguma maneira, em algum momento. As únicas formas de reduzir de forma consistente o valor da passagem são reduzir custo e aumentar o número de usuários. Já fizemos isso em 2006, quando revisamos a planilha.

Evandro – Mas neste mesmo período, cerca de 1 milhão de pessoas deixaram de usar o transporte, segundo o Seterb.

Kleinübing – Como você vai trazer as pessoas de volta ao sistema? Quando for mais fácil andar de ônibus do que carro. É a única forma. Por isso, desde o ano passado a prefeitura trabalha na criação de corredores exclusivos. A partir daí você começa a dar prioridade ao transporte coletivo.

Evandro – Temos eleição daqui a um ano e meio e a base que sustenta o seu governo tem muitos partidos que podem ter candidatos. E a gente já vê brigas internas, que sinalizam esta disputa. Como o senhor pretende administrar tantos interesses?

Kleinübing – Não permitindo que eleição entre dentro da prefeitura.

Evandro – Como se faz isso?

Kleinübing – Como fizemos na eleição passada. As pessoas podem e devem participar, é legítimo. Eu, como prefeito não posso participar, mas como filiado, como cidadão, certamente vou fazê-lo. Isso vale para a prefeitura, para o governo do Estado e para o governo federal. Este, infelizmente, resolveu botar a máquina federal para fazer campanha. O evento dos prefeitos em Brasília era um lançamento da campanha da Dilma (Rousseff) a presidente, com dinheiro que poderia estar aqui, na reconstrução da cidade. Acho um erro.

Daniela – Além de cuidar da cidade, agora o senhor também precisa se preocupar com os municípios da região da Ammvi. Como está a discussão para a reconstrução dentro deste ambiente?

Kleinübing – Estamos tratando em conjunto todas estas questões. Nossa região foi mais duramente atingida e não basta só Blumenau defender sua posição, precisamos defender a condição do Vale do Itajaí como um todo. Até porque muitas soluções passam pelo Vale.

Veículo: Jornal de Santa Catarina.
Edição: 11556.
Editoria: Política.