AGRONÔMICA – O olhar cabisbaixo e as palavras de desamparo revelam o desânimo do agricultor Nilton Venturi com a vida no campo. Produtor de arroz numa área de 7,5 hectares, ele se vê desmotivado diante das despesas com o plantio, dos riscos de mudanças climáticas e do preço pago pela saca, apenas R$ 28. Os três filhos foram tentar a vida longe da lavoura. Agora há ainda um novo motivo de preocupação para o rizicultor, desde que o Ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, prometeu multa e até prisão para quem descumprir o Código Florestal.
Se a lei federal – que prevê no mínimo 30 metros de preservação nas margens de rios e nascentes – prevalecer sobre o recém-aprovado Código Ambiental de Santa Catarina, como defende o ministro, o agricultor planeja deixar o terreno, cortado por um córrego, e abandonar a enxada:
– Não há condições de sobreviver aqui se tiver de respeitar essa distância. Serei obrigado a ir para a cidade, trabalhar como servente de pedreiro.
O desabafo do agricultor reflete o clima na cidade, que carrega o título de campeã brasileira de produção de arroz irrigado por metro quadrado, com a média de 12 toneladas por ano. O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Agronômica, Walmor dos Santos Filho, acredita que, se for cumprida a lei federal, 30% dos 380 hectares de plantio em Agronômica ficariam inviáveis:
– A aplicação do Código Florestal vai provocar uma catástrofe. Em cinco anos, não vai sobrar nenhum agricultor no interior.
Para ambientalistas, código impede recuperação da mata já devastada
Do outro lado da discussão, especialistas e ambientalistas lamentam a histórica ocupação da mata ciliar no Alto Vale do Itajaí, fato que, na opinião da secretária executiva do Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Rio Itajaí, Beate Frank, torna a nova legislação inócua:
– O Código Ambiental do Estado não tem impacto em Agronômica porque todo o impacto negativo já aconteceu lá. É lamentável porque a lei elimina as chances de recuperação.
Beate defende o recuo de 30 metros explicando a importância da mata ciliar para a vida. Segundo ela, toda a área úmida das margens é parte dos rios e ribeirões, e deve ser preservada.
Veículo: Jornal de Santa Catarina.
Edição: 11604.
Editoria: Política.
Jornalista: Magali Moser (magali.moser@santa.com.br).