Apenas 57% das moradias brasileiras são consideradas adequadas pelos critérios dos Indicadores de Desenvolvimento Sustentável (IDS), que foram divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). De acordo com as pesquisas, para serem consideradas adequados, os domicílios devem ter até dois moradores por dormitório, conexão à rede geral de água, rede geral de esgoto ou fossa sanitária e coleta de lixo direta ou indireta.
Para Denise Kronemberger, coordenadora de geografia do IBGE, apesar do percentual baixo de moradias adequadas, o resultado, com dados relativos a 2008, mostra uma clara evolução em comparação com os 36,7% de adequação existentes em 1992.
"A evolução é lenta e constante para a maioria dos indicadores, dentro de um processo de busca por desenvolvimento sustentável", frisou Denise.
Ela alertou para o que considerou o "calcanhar de Aquiles" dos domicílios. Na média, apenas 73,2% das moradias têm acesso à rede geral de esgoto ou fossa séptica. Nos outros indicadores, 82,4% das residências têm até dois moradores por dormitório, 83,9% estão conectados à rede geral de água, e 87,9% têm coleta direta ou indireta de lixo. Denise lembrou que o levantamento utiliza os dados de 2008 da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD).
Para Denise, apesar de não haver comparativos com a realidade de outros países – o critério para adequação de moradias foi criado pelo próprio IBGE – a tendência de melhora ocorreu paulatinamente durante 16 anos, sem grandes saltos de um ano para outro.
Como todos os indicadores sociais do país, a adequação de moradias também sofre influência das desigualdades regionais. Os dois Estados mais populosos do país apresentam resultados melhores para o esgotamento sanitário que para o número de moradores por dormitório, demonstrando a existência de características próprias dos grandes centros urbanos, cuja tendência é de residências menores.
Em São Paulo, 94,2% das residências tem rede de esgoto ou fossa séptica, percentual que chega a 88,7% no Rio. Em contrapartida, apenas 82,7% das moradias paulistas têm até dois moradores por dormitório, enquanto no Rio o percentual é de 83,2%.
No Norte e Nordeste a situação se inverte. A média nordestina é de apenas 40,2% de moradias adequadas, com esgotamento sanitário em apenas 55% do total. Nas região Norte a adequação chega a 28,6%, com esgotamento em apenas 60,1% do total das residências.
O estudo do IBGE mostra que o abastecimento de água deficiente, a falta de esgoto, a contaminação por resíduos ou condições precárias de moradia foram responsáveis por 308,8 internações a cada grupo de 100 mil habitantes em 2008, por doenças como diarreia, hepatites e verminoses.
"Concluímos que, em geral, nas unidades da Federação com os maiores números de internações, o acesso aos serviços de saneamento é menor e vice-versa", destaca o documento, reforçando a necessidade de ampliação de serviços de água encanada e esgoto, principalmente.
Segundo a pesquisa, o número de doentes oscilou nos últimos dez anos. Em 1998, a taxa foi de 348,2 até chegar ao pico de 371,1 por 100 mil, em 2002. As doenças de transmissão feco-oral (diarreias, hepatite A e febres entéricas) lideram e correspondem a 80% das internações.
Veículo: Jornal Valor Econômico.
Edição: 2584.
Editoria: Brasil.
Página: A2.
Jornalista: Rafael Rosas, do Rio.