A receita é gestão e plano de negócios

Diário Catarinense – Em SC, 95% das propriedades agrícolas são familiares. O que pensa desse modelo e quais alternativas para que ele se mantenha rentável?

Kátia Abreu – A pequena propriedade, assim como qualquer outra, precisa encontrar o seu negócio. Por sinal, Negócio Certo é o nome de um dos cursos que nós oferecemos pelo Senar (Sistema Nacional de Aprendizagem Rural) inspirado em Santa Catarina. O negócio certo é encontrar o ramo de atividade mais adequado a sua terra e a sua região. As pequenas propriedades funcionam muito bem enquanto nichos de mercados especiais. É assim com a pequena propriedade da Europa, e em qualquer lugar do mundo. As pequenas propriedades do Sul do país encontraram o seu nicho e têm feito uso intensivo de tecnologia. Mas, para qualquer tipo de propriedade, a receita é a mesma: gestão e plano de negócios, investindo em tecnologia e observando o clima, o mercado e o transporte para escoamento da produção.

DC – A maioria dos produtores de SC tem mais de 50 anos e as mulheres estão abandonando a agricultura. O que a CNA faz para combater isso?

Kátia – Nós criamos o curso Com Licença, Vou à Luta, que dá condições à mulher de ser mais um componente dessa empresa. Para que ela possa transferir a sua habilidade empresarial doméstica para a propriedade. O curso ensina técnicas de gestão e noções de matemática para que ela saiba se a propriedade está dando lucro. A capacidade feminina tem que ser explorada. Enquanto o marido está na lida, no trator, na plantação, no curral, a mulher tem essa habilidade administrativa. Ela pode ser bastante atuante no negócio. Sobre o jovem, o que vai atraí-lo é a renda, pois, para ele, já não é atrativa a vivência no campo. Não existe lazer, não existe o esporte, não existe investimento público que possa trazer perspectivas para o jovem no meio agrícola. Ao mesmo tempo, a atividade pode estar com a renda tão baixa que mal dá para o sustento da família. Às vezes, o filho não vê perspectivas de realização pessoal nessa propriedade. Nós estamos começando um trabalho com o Sebrae nacional para definir planos de negócio. Existem muitas propriedades que têm aptidão para determinado produto e estão produzindo outro, equivocadamente. Queremos que o jovem possa aplicar esse plano, assim como a empresa urbana faz no dia a dia já há muito tempo, na sua propriedade agrícola.

DC – O modelo de integração é o mais forte em SC, mas é questionado por ser pouco rentável. Os produtores independentes dizem que a verticalização (produzir desde as matrizes até o abate) é mais vantajosa. Qual a sua posição sobre isso, levando em conta a realidade catarinense?

Kátia – Acho importante a verticalização. O sistema de granjas não é totalmente nocivo. Mas precisa de regulação para que o produtor não vire escravo da indústria. Nó precisamos encontrar mecanismos de parceria e verticalização que possam trazer independência. Então, a concentração, por parte das granjas, é muito grande. Defendo a criação de conselhos que regulem as parcerias entre indústria e pequeno produtor. Na suinocultura e produção de frango, principalmente, é importante manter os olhos abertos para a excessiva dependência do produtor na cooperativa.

Veículo: Jornal Diário Catarinense.
Edição: 9106.
Editoria: Economia.
Página: 16.
Jornalista: Janaina Cavalli (janaina.cavalli@diario.com.br).