Maior e mais jovem, mas empobrecida

A floresta de Santa Catarina é maior do que se pensava, mais jovem e com menos variedade de espécies. É o que apontou o inventário florístico florestal de SC, realizado por pesquisadores da Universidade de Blumenau (Furb), em parceria com a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e com a Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri).

O levantamento, feito em 550 pontos de amostragem, revelou ainda que o Estado tem uma cobertura florestal de 36% – com unidades de mais de 10 metros de altura e 15 anos de idade – e não 23%, como se acreditava. Mas a maioria das florestas é composta por árvores secundárias, consideradas mais jovens, de 20, 30 anos, e de troncos finos. São 857 tipos. E 25% dessas espécies estão severamente ameaçadas de extinção – com menos de 10 unidades cada.

Desde maio, estão sendo divulgadas as primeiras constatações do estudo que começou em 2007 e teve R$ 4 milhões de investimento da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação de SC (Fapesc).

De acordo com o professor de Engenharia Florestal da Furb e coordenador do inventário, Alexander Vibrans, essas florestas apresentam um empobrecimento de espécies – com menos variedade e perda de diversidade genética – e uma baixa concentração de biomassa e de carbono. Com menos carbono, há menor retenção de água.

– A floresta é como uma esponja. Se ela não consegue mais absorver, a água escorre muito rápido. Com isso, acontecem enchentes e depois períodos de seca, como no Oeste do Estado, no ano passado – destaca o professor.

Já o presidente da Associação Catarinense de Engenheiros Florestais, André Richter, pondera que, de qualquer maneira, as árvores mais antigas devolvem o carbono para a atmosfera quando morrem. Para ele, a maior quantidade de árvores no estágio secundário é também um sinal de que as florestas estão se regenerando, apesar das formações florestais estarem em distribuição desigual. Segundo o inventário, em regiões de cidades como São Miguel do Oeste, por exemplo, há apenas 10% de florestas, enquanto, em Blumenau, a cobertura chega a 65%.

Matas virgens encontradas em áreas de difícil acesso

De acordo com Vibrans, a cobertura florestal é ainda mais reduzida em áreas de grande ocupação humana e especulação imobiliária, como na capital catarinense. As matas virgens, que existem desde a época da colonização, são encontradas apenas em áreas de difícil acesso, como em pontos da Serra Geral, que corta Santa Catarina.

Vibrans destaca como ponto positivo do estudo realizado por mais de 150 pessoas, a descoberta de espécies novas, a exemplo da bromélia Vriesea Rubens, encontrada em Orleans. Outras sete espécies de plantas estão em processo de análise de pesquisadores de estados como Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo pela possibilidade de serem inéditas.

– Só se pode conservar as espécies sabendo quais são elas, a composição e a estrutura – conclui Vibrans.

SC é o primeiro a contar com um inventário minucioso. Distrito Federal, Sergipe e Ceará devem ser os próximos a investir em trabalhos nesse sentido.

As conclusões

Espécies extremamente ameaçadas Butiá da praia, olandim e pinho bravo

Espécies mais frequentes em SC Vassourão, tanheiro, licurana, jacatirão-açu, cafezeiro do mato, bracatinga, bugreiro, canela-sebo e açoita-cavalo

Florestas primárias São as matas originais, não alteradas pelo homem, e que ainda têm grande biodiversidade. Apenas 5% das florestas têm essas matas virgens. Elas estão concentradas em áreas de difícil acesso: na Serra do Tabuleiro, na Grande Florianópolis, na Serra do Itajaí, na Serra do Mar, em Joinville e na Serra que cobre a divisa entre SC e RS.

Florestas secundárias

São áreas que já foram devastadas, mas foram recuperadas naturalmente. Essas florestas apresentam uma perda da biodiversidade em relação às originais e retêm menos biomassa. De um modo geral, a menor biomassa tem consequências como a perda de fertilidade do solo e a menor retenção d´água, facilitando a ocorrência de inundações. Essas florestas representam 95% da cobertura atual de SC e estão distribuídas por todo o Estado.

Território catarinense é composto por três florestas (anexo).

Veículo: Jornal Diário Catarinense.
Edição: 9227
Editoria: Geral.
Página: 4.
Jornalista: Gabrielle Bittelbrun (gabrielle.bittelbrun@diario.com.br).