ENTREVISTA: MARCELO GRAMANI, GEÓLOGO DE SÃO PAULO
O geólogo do Instituto Geológico Doutor Jair Santoro, de São Paulo, Marcelo Gramani, ficou impressionado com o que viu ontem à tarde em Blumenau. Juntamente com outros oito técnicos da Defesa Civil de São Paulo, eles vieram, voluntariamente, ajudar a avaliar a situação dos deslizamentos no Vale do Itajaí. O laudo que vão elaborar vai servir de subsídio para a prefeitura detectar áreas impróprias para moradia e que tipo de intervenção terá de ser feita em caso de reconstrução das casas. Gramani, no entanto, adverte: áreas ainda não atingidas poderão sofrer com novos deslizamentos. E, a partir de agora, a prefeitura terá de repensar toda a ocupação urbana. Hoje, mais dois geólogos do Rio de Janeiro virão para avaliar os estragos em Blumenau.
Jornal de Santa Catarina – Por que os morros em Blumenau são tão frágeis?
Marcelo Gramani – A única explicação foi que choveu demais. Extrapolaram todos os limites aceitáveis acumulados de chuva. Entre sábado e domingo, choveu 500 milímetros. Não há encosta que resista. Isso não é exclusividade daqui.
Santa – A topografia da cidade teve alguma influência?
Gramani – Sem dúvida. Áreas com declividades muito altas favorecem o deslizamento de encostas. Eu visitei casas hoje de alto padrão e todas destruídas. Não é questão de ser de alvenaria, de madeira, de baixa renda ou alta renda. Afetou todo mundo. O desastre é democrático. Pega desde o mais pobre até o mais privilegiado
Santa -Teríamos como ter previsto este desastre?
Gramani – Desastres são desastres e podem acontecer. São imprevisíveis. Um terremoto, por exemplo, não tem como dizer onde vai acontecer e quando vai acontecer. O que se pode fazer é um mapeamento que a prefeitura já havia feito das áreas de risco, qualificando baixo, médio e alto risco. Isso já tinha. E uma coisa que deve ser dita é que nas áreas que eu visitei, as ações tomadas pela prefeitura foram corretas. O que tinha de ser feito eles fizeram. Agora, a prefeitura terá de repensar toda a sua questão urbana, de ocupação.
Santa – Ainda há risco de novos deslizamentos? A população pode ficar despreocupada?
Gramani – Enquanto permanecerem as chuvas, há risco. O solo está muito encharcado, a saturação do solo é extrema e a gente não tem como prever. É impossível o solo resistir com tanta água.
Santa – Se o tempo colaborar, o risco termina?
Gramani – Temos que ver quanto tempo de sol. Todas essas áreas terão de ser reavaliadas para ver se ainda há risco ou não. E naquelas em que houver risco as pessoas não voltam.
Santa – Podem ocorrer deslizamentos em outros morros ou em locais ainda não atingidos?
Gramani – Sim, porque a cidade toda foi afetada. Se continuar a chuva, outras áreas podem sofrer.
Veículo: Jornal de Santa Catarina.
Edição: 11480.
Editoria: Geral.