Prestes a desabar

BLUMENAU – Depois de perder a casa em um deslizamento na Rua Pedro Krauss, a família de Clementina de Vargas, 48 anos, buscou abrigo na casa de amigos na Rua São Bento, no Vorstadt. Perto do meio-dia de ontem, tiveram de enfrentar novamente o medo. A cozinha e a garagem, na parte de trás da moradia, às margens do Rio Itajaí-Açu, desmoronou de repente. Todos os 10 ocupantes estavam em outros cômodos e sobreviveram. Não houve tempo para chorar. Começou a corrida para salvar móveis, roupas e, principalmente, alimentos. A rua foi interditada.

Pelo menos outras quatro famílias com casas em situação de risco tiveram de deixar o local. Parte de outra casa também cedeu. Os curiosos aglomerados em frente à fita de isolamento eram intimados por Clementina a levar os pertences para o outro lado da rua.

– Não sei o que vou fazer. Não temos mais para onde ir – disse.

Enquanto tábuas da parede do quarto eram quebradas com ajuda do martelo para agilizar a retirada do guarda-roupa, uma funcionária da padaria em frente à casa entrava transtornada em um carro.

Antes de fechar a porta, contou que recebeu uma ligação avisando que a casa onde mora, na Rodovia Jorge Lacerda, em Gaspar, estava prestes a desmoronar no mesmo rio. No local, próximo ao Lençóis de Malha Soft, casebres no barranco do rio eram deixados pelos moradores, temerosos com a possibilidade de desabamento.

– Meus pais já estão em Blumenau, agora terei de ir embora também. Vai descer tudo – diz Mauro Vigarani, 42, apontando para uma fissura aberta entre o acostamento e a casa.

Na Rua Florianópolis, no Bairro da Velha, a Defesa Civil teria orientado moradores a deixar as casas. A ameaça vem do Morro da Companhia, no final da rua, onde uma casa desabou.

– Três homens da Defesa Civil e um bombeiro vieram aqui perto das 23h30min de ontem (terça-feira) e pediram para sairmos. Como era muito tarde, achamos que fossem ladrões – conta a adestradora Cíntia de Oliveira, 24.

Em razão da desconfiança, o marido e outros moradores ficaram de guardiões, enquanto muitas famílias deixavam o local. Ontem à tarde, receberam novamente a visita de homens com coletes da Defesa Civil e entenderam que o perigo de desmoronamento é real. O casal Domício José Zeferino, 71 anos, e Devanir Martins Zeferino, 61, ainda estava em casa ontem à tarde. Recusam-se a sair.

– Moramos aqui há 30 anos. Em 99, quando construímos a casa, acompanhei toda a obra. Não tem como cair – explica Devanir.

Moradores temem que a rua desapareça

No Bairro Bom Retiro, moradores da Rua Augusto Otte, uma transversal da Hermann Hering cercada de morros, temem que a rua desapareça. Casas foram soterradas. Pelo menos 10 famílias deixaram as moradias, segundo a bordadeira Rosângela Gallotti Rebelo, 57. Uma barreira isolou a rua.

– Tivemos de abrir uma picada no morro para retirar o que deu. Agora, minha filha entra em pânico por qualquer barulho – conta.

Desde terça-feira de manhã a família da costureira Itamar da Silva Buse sofre com os estrondos e estalos insistentes do prédio ao lado da casa, na Rua Engenheiro Udo Deeke. A rua cedeu, está interditada, e está puxando as construções ao lado. A casa de Itamar é uma delas. Está sendo engolida pela cratera. A família de seis pessoas desocupou a residência e dormiu uma noite na rua, protegida por uma lona. Não queriam deixar o local com medo de saques na marcenaria do marido. A estrutura da casa, segundo ela, está prestes a desabar. Na mesma situação estão dois prédios do mesmo lado.

O diretor da Defesa Civil, Telmo Duarte, desconhece o pedido de retirada dos moradores da Rua Florianópolis. Como há desmoronamentos por toda a cidade, ele não arrisca dizer quais são as áreas de maior risco. Vai aguardar os laudos dos geólogos vindos do Sudeste para ajudar o município a entender a causa dos deslizamentos. (Colaborou Giovana Pietrzacka)

Estradas comprometidas de Blumenau

– Rua São Bento (Bairro Vorstadt) – interditada. Pelo menos cinco casas na margem do rio foram evacuadas no começo da tarde de ontem, em razão de risco de desmoronamento

– Silvano Cândido da Silva (Ponta Aguda) – liberada só para motos, pedestres e carros pequenos. Terça-feira à noite parte da pista cedeu, abrindo uma cratera. Ontem o trecho foi reconstruído. A Guarda Municipal de Trânsito recomenda cuidado ao passar pela via pois há barreiras em toda a extensão. Ao final da rua, um deslizamento de terra sobre a pista interrompeu a passagem para o município de Gaspar

– BR-470, kms 63 e 87 (entre Blumenau e Indaial) – até o início da noite de ontem, o trânsito estava em meia pista, pois a estrada havia cedido. Há possibilidade de interdição

– SC-470 (Rodovia Jorge Lacerda, entre Blumenau e Gaspar) – há trechos em meia pista. Está proibido o tráfego de caminhões, com exceção dos veículos com mantimentos para os municípios do Vale

– Rua Engenheiro Udo Deeke, (Bairro Salto do Norte) – parte da rua está interditada. Um trecho próximo ao Terminal do Aterro cedeu, comprometendo casas das proximidades

– Rua Progresso, Bairro Progresso – interditada próximo ao cemitério, em razão de queda de barreira

– Rua República Argentina, Bairro Ponta Aguda – em meia pista, em razão de trechos que cederam e quedas de barreiras. Proibido o trânsito de caminhões

– Bruno Hering, Bairro Bom Retiro – interditada em razão de queda de barreira próximo a Cia Hering

– Rua 7 de Setembro, Centro – parte da pista em frente a Volpato, ao lado do Shopping Neumarkt, está interditada desde o fim de semana em razão de deslizamento do morro atrás da loja

– Via Expressa – trânsito com desvios ou em meia pista em diversos pontos

Veículo: Jornal de Santa Catarina.
Edição: 11480.
Editoria: Geral.
Jornalista: Daiane Costa (daiane.costa@santa.com.br).