Há uma triste ironia na história das enchentes que marcaram Blumenau. Se as catástrofes de 1983 e 1984 levaram a população a procurar moradias em lugares altos para se refugiar da ameaça das águas, agora vem das alturas o principal rastro de destruição da mais recente tragédia vivida no município.
Os deslizamentos de terra sobre casas e ruas já somam mais de 12 mil ocorrências e soterraram 13 vidas desde o sábado.
– Traumatizadas pelas enchentes, as pessoas passaram a construir seus lares nos pontos elevados de forma rápida e desordenada há duas décadas. Mas, em vez de uma solução, isso se tornou um novo problema – confirma Gerson Ricardo Müller, geólogo da Secretaria de Obras da prefeitura.
Há 25 anos, 15% dos 150 mil moradores residia nas alturas. Hoje, com o dobro de habitantes na cidade, esse contigente chega a 40%, o que eleva ainda mais o número de desabrigados.
A topografia íngreme formada por morros compostos principalmente de rochas sedimentares – que atuam como esponjas impedindo que o volume de água escoe, o que sobrecarrega o solo nas encostas – , é um dos perigos iminentes em caso de chuvas fortes.
– Há 90 dias chove direto aqui. Como o solo estava completamente encharcado, a chuva dos últimos dias foi derradeira para arrastar essas encostas abaixo – relata Telmo Duarte, diretor da Defesa Civil.
Desmatamento favorece quedas de barreiras
O desmatamento da vegetação durante a construção de residências e a abertura de estradas aumentam a incidência de quedas de barreiras e deslizamentos. Moradias clandestinas e loteamentos regulares compõem o cenário desolador.
Nas palavras de Neusa Felizetti, secretária de Habitação e Regularização Fundiária:
– Se eu disser que existe hoje uma única rua em Blumenau que não tenha sofrido com um alagamento estarei mentido. A cidade está irreconhecível.
Veículo: Jornal Diário Catarinense.
Edição: 8267.
Editoria: Reportagem Especial.
Página: 8.