Prefeituras vão gastar R$ 2,4 bi a mais este ano para pagar piso de professores

Os prefeitos iniciaram os mandatos no dia 1º de janeiro com perspectivas de aumento de gastos por causa do novo piso salarial dos professores. A estimativa da Confederação Nacional dos Municípios (CNM) é que os prefeitos devem gastar R$ 2,4 bilhões a mais no ano para cumprir o novo piso de R$ 950,00, imposto pela lei 11.738, aprovada no ano passado.

A correção dos salários dos professores tem início neste ano, quando os prefeitos terão de reajustar os vencimentos de maneira a cumprir dois terços do total previsto com o novo piso (R$ 634,00 por professor). A partir do ano que vem, os municípios terão de acrescentar o terço restante, chegando a R$ 950,00. Os cálculos da CNM foram realizados com base na média salarial de 398 municípios que possuem salários abaixo de R$ 950,00. A partir dessas cidades, a confederação chegou ao custo adicional de R$ 2,4 bilhões na folha de pagamento das prefeituras para este ano.

Os custos poderiam ser ainda maiores caso o Supremo Tribunal Federal (STF) não tivesse derrubado parte da lei que criou o piso. Em julgamento realizado em 17 de dezembro, os ministros do STF concederam liminar para suspender o parágrafo 4º do artigo 2º da lei, que determinava o cumprimento de, no máximo, dois terços da carga horária dos professores para desempenho de atividades em sala de aula.

Caso esse parágrafo tivesse sido mantido, a folha de pagamentos dos municípios passaria de R$ 6 bilhões para R$ 8,1 bilhões, segundo levantamento feito pela CNM com 750 prefeituras. Hoje, os professores passam 20% do tempo fora da sala de aula, e a lei elevaria esse período para 33%. Assim, os municípios teriam de contratar 13% a mais de professores para suprir o horário extra-classe.

Outro ponto positivo do julgamento para os municípios foi o fato de o STF considerar que as gratificações e vantagens percebidas pelos professores terão de ser calculadas dentro do piso salarial. Isso evitou casos em que o salário dos professores é ampliado, chegando até ao dobro do vencimento-padrão.

"Reconhecemos que a decisão do STF foi uma conquista para os municípios", afirmou o presidente da confederação, Paulo Ziulkoski. "Mas a minha maior preocupação é que foi uma decisão temporária", completou, referindo-se ao fato de os ministros terem examinado apenas o pedido de liminar, que é provisório, e não o julgamento do mérito, no qual será dada a sentença definitiva sobre o assunto.

Ziulkoski comemorou a interrupção da aplicação de parte da nova lei, mas lamentou o fato de o STF ainda não ter dado um ponto final na definição do período em que o professor deve permanecer extra-classe. "Isso fez os prefeitos começarem o ano tremendo nas bases", disse. "Eles já começaram o ano com gastos maiores e uma incerteza quanto ao futuro."

A CNM avaliou que os prefeitos estão sem previsões sobre o assunto, pois o STF não tem prazo para julgar o mérito da ação e alguns ministros deram a entender, durante o julgamento, que podem mudar de posição no futuro, já que o caso não foi encerrado. Um último temor dos prefeitos: os ministros do STF podem entender que o piso é constitucional e determinar o pagamento retroativo das diferenças. "Caso eles concedam efeito retroativo à decisão, os municípios terão de pagar os atrasados e aí terão é dívidas", disse Ziulkoski.

Veículo: Jornal Valor Econômico.
Editoria: Brasil.
Jornalista: Juliano Basile, de Brasília