O acordo revigora a língua portuguesa

Entrevista: Godofredo de Oliveira Neto, professor universitário

Presidente do conselho diretor do Instituto Internacional de Língua Portuguesa (IILP), Godofredo de Oliveira Neto concedeu entrevista ao Jornal de Santa Catarina por telefone, desde o Rio. Confira os principais trechos:

Jornal de Santa Catarina – Qual será o papel do Instituto Internacional de Língua Portuguesa (IILP) na implantação do acordo ortográfico?

Godofredo de Oliveira Neto – O instituto, que é o único órgão da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), está com a incumbência de coordenar a elaboração do vocabulário ortográfico comum previsto no acordo ortográfico, unindo os oito países.

Santa – Isso já está sendo feito? Qual o prazo?

Godofredo – Não, ainda não. E não há um prazo. O instituto fará isso quando os países decidirem. A idéia é que haja uma unificação para todos. Enquanto isso não acontece, cada país vai fazendo a sua unificação. O Brasil está fazendo a dele, pela Academia Brasileira de Letras (ABL), que fica pronta em fevereiro. Quando houver a reunião dos oito países, o Brasil já irá com a sua proposta pronta.

Santa – O acordo ortográfico é bom para o Brasil?

Godofredo – É excelente. Abre um mercado em Portugal e nos países africanos. Tanto que os editores portugueses se queixam dessa possibilidade de invasão pelos brasileiros. O acordo é principalmente bom se entendermos que vivemos numa política global de blocos. Então, o bloco lusófono pode ter uma identidade em relação a outros.

Santa – Quais as vantagens para o bloco lusófono?

Godofredo – Primeiro, revigora a língua portuguesa no mundo. Também é um espaço para veicular, de forma mais ágil, a nossa produção. Ganha força, inclusive, para se pleitear que o português se torne um dos idiomas oficiais da ONU.

Santa – Educadores apontam que o brasileiro, em geral, tem dificuldade para entender as regras ortográficas atuais. Com as mudanças, essa compreensão irá melhorar?

Godofredo – Piorar não irá. A tendência é beneficiar. Só não será total porque a escrita corre sempre atrás da oral. A modalidade oral avança mais rápido. Não tenha dúvida de que irá facilitar.

Santa – Poderá haver alguma dificuldade no período de transição?

Godofredo – Acho que haverá um problema pequeno, aquele de a pessoa se acostumar com as mudanças. Que a palavra "ideia" não terá mais acento. Que a palavra "linguiça" não terá mais trema. Mas são coisas pequenas, que serão assimiláveis com o tempo.

Santa – O que o senhor destacaria como o mais positivo na reforma?

Godofredo – Irá reforçar a circulação de livros nos países lusófonos. Ocorrendo isso, ganharemos um aliado, que é o livro como suporte para diminuir o analfabetismo nos países. Esperamos, também, que o livro fique mais barato e acessível.

Santa – Há algo de negativo?

Godofredo – Não, não creio. Há uma questão incompleta, que é a do hífen. Mas o hífen já era incompleto antes e continua incompleto. Mas as dúvidas deverão ser sanadas com a unificação do vocabulário ortográfico pela ABL.

Santa – Por que uma parcela significativa dos portugueses se rebelou contra a reforma?

Godofredo – Olha, fui convidado para participar do debate no parlamento português, que foi muito interessante e democrático. A votação foi favorável à ratificação do acordo. A reação existe porque os portugueses pensam, obviamente, que é uma vitória brasileira.

Santa – O senhor acha que o governo brasileiro se preparou adequadamente para as mudanças?

Godofredo – Em breve, deverá sair uma campanha nacional de divulgação das alterações.

Santa – Não é um atraso a Academia Brasileira de Letras (ABL) oficializar o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (Volp) só em fevereiro, um mês depois de o acordo entrar em vigor?

Godofredo – O ideal teria sido antes, mas não chega a representar um incômodo. São cerca de 2 mil palavras que serão examinadas.

Santa – Os brasileiros estão dando a devida importância à reforma?

Godofredo – Acho que houve uma reação inicial, com certo desconhecimento, incluindo até componentes políticos. Agora, as reações são muito pequenas.

Veículo: Jornal de Santa Catarina.
Edição: 11508.
Editoria: Geral.