A reforma ortográfica que passou a vigorar desde 1º de janeiro provocará mudanças nos dicionários e nos livros didáticos das escolas públicas. Mas não haverá tempo para que os alunos recebam as publicações atualizadas já para o início das aulas de 2009.
O Ministério da Educação (MEC) terá de esperar que a Academia Brasileira de Letras (ABL) unifique as palavras que vão mudar. É o chamado Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (Volp), que deve ficar pronto em fevereiro.
A expectativa do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), do MEC, é lançar o edital de concorrência pública assim que o Volp estiver definido. O diretor de Ações Educacionais do FNDE, Rafael Torino, anuncia que deverão ser comprados de 8 milhões a 10 milhões de dicionários. O investimento será de R$ 70 milhões a R$ 90 milhões. Deverão beneficiar mais de 37 milhões de estudantes do país.
– Vamos mandar kits com um exemplar de cada dicionário aprovado para 1 milhão de salas de aula do Ensino Fundamental e Médio – diz Torino.
Serão três tipos de dicionários, com variações no número e na descrição dos verbetes, dependendo da idade do aluno. O tipo um será para crianças de seis a oito anos. O dois, para crianças até 10 anos. O três, mais complexo, para alunos acima de 10 anos.
A distribuição dos livros didáticos adaptados será feita de forma gradual, até 2012, quando se encerra a fase de transição da reforma ortográfica. Pelo cronograma do MEC, uma parte deverá ficar pronta em 2009, para os alunos do 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental. Os outros receberão o material na sequência, por etapas.
As escolas públicas dependem das entregas a serem feitas pelo MEC. Sem dispor de livros, dicionários e cartilhas, o trabalho dos professores ficará restrito.
Mesmo com as divergências em torno de certas palavras, as editoras de livros didáticos estão agindo. Algumas não irão esperar pela unificação da ABL. O presidente da Associação Brasileira de Editores de Livros (Abrelivros), Jorge Yunes, calcula que um quinto dos livros a serem vendidos para sala de aula no início de 2009 já está adaptado à reforma. Yunes é dono da Companhia Editora Nacional, que edita o minidicionário feito pela ABL.
– No nosso dicionário escolar, apenas cerca de 5% dos verbetes sofrem alteração. Mas, a curto prazo, o acordo não vai abrir mercado para nós. É uma reforma ortográfica, não semântica – observa Yunes.
Em Portugal, será mais complicado, porque as mudanças atingirão 15% dos verbetes. Uma das razões é a perda de consoantes mudas, como acção e optimismo. Os portugueses terão de escrever como os brasileiros, ação e otimismo. O mesmo ocorrerá com húmido e herva, que perderão o H.
Veículo: Jornal de Santa Catarina.
Edição: 11512.
Editoria: Geral.