ILHOTA – Um estudo da Epagri sobre a catástrofe no complexo do Morro do Baú concluiu que 85% das áreas onde ocorreram deslizamentos haviam sido alteradas pelo homem. São regiões de reflorestamento, plantação de banana, capoeira ou com o solo à mostra, sinalizando desmatamento recente.
Segundo o estudo, mesmo nos 15% restantes de terras afetadas onde a cobertura vegetal aparentava ser mais densa e uniforme, foram observadas algumas influências de ações humanas no entorno – atividades agrícolas ou reflorestamento, estradas e faixa desmatada do traçado do gasoduto Brasil-Bolívia.
Segundo Luiz Fernando de Novaes Vianna, biólogo e mestre em Engenharia Ambiental que participou da elaboração do estudo, os resultados mostram que a interferência do homem no Morro do Baú contribuiu para agravar os deslizamentos. Porém, mesmo se a região estivesse intacta desmoronamentos teriam ocorrido.
– Com o volume de água que caiu e o tipo de solo, os deslizamentos também teriam ocorrido, só que com menor intensidade e em menor extensão. Não teria ocorrido uma catástrofe porque não haveria pessoas lá – argumenta o especialista.
Para especialista, dano seria menor se houvesse mais florestas
A doutora em Ecologia Lúcia Sevegnani, pesquisadora do Departamento de Ciências Naturais da Furb, explica que a retirada de madeira no Morro do Baú favoreceu o surgimento de vegetação rasteira e de mata secundária, que não têm enraizamento profundo capaz de evitar deslizamentos. A construção de casas em encostas, no meio ou no topo dos morros, também favoreceu os desmoronamentos, explica a especialista:
– Se tivesse mais área de florestas, o dano seria menor.
Para Lúcia, é preciso repensar o percentual e a distribuição de vegetação florestal a ser preservada em cada propriedade.
O relatório da Epagri foi elaborado para ajudar os órgãos públicos a desenvolver ações de recuperação das áreas atingidas.
Maioria dos deslizamentos ocorreu longe de gasoduto
O estudo da Epagri também mediu a distância entre 61 pontos afetados por deslizamentos e a tubulação do gasoduto Brasil-Bolívia, que passa pelo complexo do Morro do Baú.
A maioria das áreas (33), entre as localidades do Baú e Braço do Baú, estão a mais de três quilômetros do gasoduto. Os pontos afetados por desmoronamentos mais próximos do gasoduto (6) estavam a até 500 metros da tubulação.
Em 23 de novembro do ano passado, em razão de uma movimentação de terra, houve rompimento da tubulação do gasoduto, seguida de explosão. No entanto, o relatório não investigou se a explosão contribuiu para a tragédia.
Prefeitura de Ilhota contesta dados do estudo
O secretário de Agricultura e Meio Ambiente de Ilhota, Almir César Paul, contesta o estudo da Epagri. Ele afirma que a maioria dos locais afetados por deslizamentos no Morro do Baú são áreas de preservação permanente, "com ampla cobertura vegetal nativa em fase secundária", ou seja, áreas com vegetação em processo de regeneração avançado, que há pelo menos 20 anos não sofrem interferência do homem.
– Há mais de 20 anos conheço a região. Já fui técnico municipal da antiga Caresc, que hoje virou a Epagri. Há quatro anos e meio assumi esta secretaria e o Baú é parte diária do nosso trabalho.
Depois que ler o levantamento, o secretário pretende convidar os pesquisadores para irem juntos às áreas onde ocorreram deslizamentos.
O município vai definir estratégias de recuperação e reocupação do Morro do Baú a partir de um levantamento que está sendo feito pelo Centro Universitário de Estudos e Pesquisas sobre Desastres da UFSC. De acordo com Paul, esta semana a prefeitura deve ter acesso ao laudo.
Resultado preliminar do estudo aponta que 95 casas, uma escola e diversos estabelecimentos comerciais de Ilhota tiveram problemas de estrutura ou foram danificados de alguma forma pelas chuvas e deslizamentos de novembro do ano passado.
Veículo: Jornal de Santa Catarina.
Edição: 11536.
Editoria: Geral.
Jornalista: Daiane Costa (daiane.costa@santa.com.br).