Pedágio virá antes da duplicação?

BLUMENAU – O anúncio de que a duplicação da BR-470 em todo o Estado será a partir de recursos arrecadados com a concessão da rodovia, feito pela ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, quarta-feira, gerou dúvidas e trouxe descontentamentos para empresários da região. Previsto para começar até o final do ano, o processo de concessão à iniciativa privada geraria R$ 1,4 bilhão em recursos a serem investidos nas obras, feitas pelo governo federal. As principais questões levantadas agora dizem respeito à cobrança de pedágio e ao andamento do atual processo de duplicação, entre Navegantes e Indaial.

O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) esclarece que a licitação do projeto executivo e os estudos de impacto ambiental e viabilidade econômica continuam em andamento, inclusive com o prazo de conclusão da obra previsto para final de 2011. Após a arrecadação dos recursos junto à iniciativa privada, a duplicação continuaria, do trecho de Indaial até a divisa com o Rio Grande do Sul.

Para lideranças empresariais, o uso de recursos privados para a duplicação da rodovia é contraditório e gera dúvidas quanto à inclusão da obra no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), além dos critérios para a cobrança de pedágio.

– Que se façam as obras, mas cobrando pedágio só depois da duplicação. O PAC é investimento público. Usar a arrecadação do leilão não seria tirar a obra do PAC? – questiona o presidente da Associação Empresarial de Blumenau (Acib), Ricardo Stodieck.

Apesar de defender a entrega da BR-470 para a iniciativa privada, a senadora Ideli Salvatti (PT) é cética quanto à concretização da concessão da rodovia a curto prazo:

– Não temos a menor garantia que a concessão se viabilize em dois ou três anos. Isso é algo demorado, basta ver como ocorreu com as BRs 101 e 116, que demoraram seis anos para finalmente passarem pra iniciativa privada. Então, não há como parar o atual processo de duplicação.

A reportagem do Santa entrou em contato ontem com a Agência Nacional de Transportes Terrestres para elucidar como ocorrerá a cobrança de pedágios e o leilão da rodovia, mas não foi atendida até o fechamento da edição.

 

Repercussão

O pedágio não é bem-vindo. A duplicação é necessária, mas o pedágio, não. O governo tem de aceitar a realidade do povo brasileiro, que não pode nem quer pagar mais tributos.

Sônia Medeiros, presidente da Associação de Micro e Pequenas Empresas (Ampe) de Blumenau

Pra nós, PAC é dinheiro do governo. Fazer isso não seria tirar a obra do PAC? Que se façam as obras, mas com cobrança de pedágio somente após a conclusão da duplicação.

Ricardo Stodieck, presidente da Associação Empresarial de Blumenau (Acib)

A BR-101 foi duplicada e depois entregue à iniciativa privada. Se ocorrer o contrário com a BR-470, temos que ter cuidado para que isso não influencie no valor da tarifa.

Pedro José de Oliveira Lopes, presidente da Federação das Empresas de Transporte de Carga de Santa Catarina (Fetrancesc)

É vergonhoso para a classe produtiva ficar sendo alimentada por esperanças. O governo sempre mudando de discurso. É preciso haver um discurso único, que seja cumprido. A obra tem que ser concluída, mas a União é quem tem que pagar.

Marcelino Campos, presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Blumenau

É correto o que o governo está fazendo. O país nunca vai ter boas rodovias sem parcerias com a iniciativa privada. O preço da tarifa é pequeno em vista do desenvolvimento econômico e benefícios aos motoristas que a duplicação da BR-470 pode trazer.

Jandir Bellini, prefeito de Itajaí (PT)

Acompanhe a duplicação (ANEXO)

Veículo: Jornal de Santa Catarina.
Edição: 11541.
Editoria: Geral.
Jornalista: Rafael Waltrick (rafael.waltrick@santa.com.br).