Os primeiros a chegar eram agricultores procedentes do Tirol e de Veneto. Em 1875 eles fincaram raízes em Rodeio, Rio dos Cedros e Nova Trento, nas primeiras colônias de italianos no Vale do Itajaí. A partir de hoje, as tradições desses imigrantes serão celebradas em Blumenau, durante a 16ª Festitália, no Parque Vila Germânica. A possibilidade de aproveitar a gastronomia, a música e a dança típicas daqueles que atravessaram o Oceano Atlântico em busca de um futuro promissor em Santa Catarina entusiasma descendentes de toda a região.
Aimoré Frainer, 41 anos, é um deles. O auxiliar de enologia da Vinícola San Michele contribuiu para a empresa de Rodeio levar mais de 5 mil garrafas para a Festitália. A vinícola lançará na festa o vinho biodinâmico, feito a partir de uvas produzidas sem agrotóxico e fertilizantes químicos, respeitando fases da Lua, posição do Sol e dos planetas. No mês de julho, o trabalho duplica, mas Frainer não se importa:
– Ajudava meu avô a produzir vinho artesanal. É um orgulho para mim poder manter as tradições.
Nem sempre foi assim. Houve um tempo em que italianos se escondiam.
– Antes do centenário da imigração italiana no Brasil, em 1975, não manifestávamos nossa cultura. Falar o italiano era depreciação – lembra José Campestrini, cônsul honorário da Itália para a região e um dos sócios-fundadores do Lira Circolo Italiano di Blumenau, em 1989.
Nilton Tomellin, 53, vibra com a mudança de comportamento. Ele produziu 2,8 mil porções de lasanhas para a festa. Proprietário do Restaurante Caminetto, o mais antigo especializado em comida italiana em Rodeio, aprendeu a receita com a mãe:
– É uma lasanha artesanal, a massa é feita em casa, com ovos de galinha caipira.
O sabor das massas e molhos levou ano passado 17 mil pessoas para a Festitália. A organização quer manter o público nesta edição e investir em mais qualidade. O tributo a Pavarotti e show cover com Eros Ramazotti são as principais atrações.
Em Blumenau, 42% têm ascendência italiana
Quase metade do sangue blumenauense é italiano. Ao todo, 42% da população têm a ascendência, estima o Lira Circolo Italiano di Blumenau, responsável pela preservação cultural através do canto, dança, gastronomia e idioma.
– O movimento da italianidade em Blumenau surgiu com um grupo de sete amigos que tinham a necessidade de se encontrar – conta o rodeense Décio Moser, presidente do Lira e coordenador da Festitália, que veio para Blumenau "far la vita", como define ("fazer a vida", no dialeto trentino), e aqui casou com Lori, uma descendente de alemães.
As influências deixadas pelos italianos na cidade reconhecida nacionalmente pela cultura germânica vão além do hábito de tomar vinho e comer pizza.
– Por estarem próximos às colônias alemãs, os núcleos italianos formam uma maneira de desenvolvimento peculiar no Vale, com mistura de hábitos alimentares e da língua – avalia o professor José Roberto Severino, do Departamento de História da Furb, cuja tese de doutorado na Universidade de São Paulo (USP) foi sobre a imigração italiana em Santa Catarina.
Serviço |
16º Festitália – De hoje até dia 26, no Parque Vila Germânica. Entrada R$ 10 (sextas e sábados), R$ 5 (de terça a quinta-feira) ou gratuita aos domingos. A programação completa está disponível no site www.festitalia.com.br |
Veículo: Jornal de Santa Catarina.
Edição: 11681.
Editoria: Geral.
Página: 11.
Jornalista: Magali Moser (magali.moser@santa.com.br).