Pedaços de troncos de árvores e barro caídos do morro escondem o que antes da catástrofe era a área de camping do Parque Botânico Morro do Baú. As placas que sinalizam trilhas estão todas no chão. Deslocada pela força da água, a casa centenária de madeira, moradia dos primeiros caseiros, parece estar a uma tábua de tombar definitivamente. No link de atrativos turísticos do site da prefeitura de Ilhota, uma observação abaixo da descrição do parque dá o alerta: "Desativado temporariamente devido os eventos naturais ocorridos em novembro de 2008". Neste sábado, a visita de um geólogo e de um representante da administração do parque pode sepultar as atividades por tempo indeterminado.
– Provavelmente teremos a confirmação de que o parque precisa ser interditado, por perigo de novos deslizamentos – prevê Jurandir de Souza Bernardes, administrador do Herbário Barbosa Rodrigues, de Itajaí, dono do parque.
Somente após a análise do geólogo, a administração irá levantar os prejuízos deixados pela catástrofe e estudar a recuperação do local. Bernardes pretende pedir auxílio financeiro ao governo federal. Ambientalistas lamentam o fechamento da área que serve também para pesquisas. Cerca de 70% da flora catarinense está representada nos 750 hectares do parque. A doutora em Ecologia Lúcia Sevegnani, pesquisadora do Departamento de Ciências Naturais da Furb, ressalta que o Parque Botânico tem uma das maiores coleções de bromélias de Santa Catarina, cujo cultivo iniciou na década de 1960. Sem manutenção, há risco de outras espécies de plantas tomarem o lugar das bromélias.
O primeiro impacto negativo para a atividade turística na cidade, que tem o Morro do Baú como principal atrativo, também foi sentido. O parque teve de ser retirado de um roteiro regional de cicloturismo poucos dias antes do lançamento.
– Antes haveria pernoite no camping. Agora, ele será apenas contornado pelo Braço do Baú – explica a secretária de Indústria, Comércio e Turismo de Ilhota, Marisa Terezinha Pereira.
Enquanto o futuro do parque permanece incerto, uma árvore carregada de limões galegos, ao lado do que restou da casa centenária, reina absoluta como o único resquício de vida em meio ao abandono.
O Parque Botânico Morro do Baú |
– Localização: localidade de Alto Baú, em Ilhota |
– Altitude: 819 metros no pico, de onde, em dias claros, é possível ver as praias de Balneário Piçarras, Penha, Navegantes, Itajaí e Balneário Camboriú, além de Gaspar, Blumenau e Luís Alves |
– Área: 750 hectares de floresta em bom estado de conservação, com valor paisagístico, cachoeiras, grutas |
– Atividades: é área de pesquisa científica, tem inclusive uma das maiores coleções de bromélias do Estado. Antes da catástrofe tinha área de camping, banheiros, churrasqueiras e espaço para jogar vôlei e futebol |
Veículo: Jornal de Santa Catarina.
Edição: 11688.
Editoria: Geral.
Página: 14.
Jornalista: Daiane Costa (daiane.costa@santa.com.br).