ENTREVISTA, MARCELO SCHAEFER, DIRETOR DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE
Em Blumenau, a situação é de crise, mas não de gravidade. O diretor da Vigilância em Saúde e secretário municipal de Saúde em exercício, Marcelo Schaefer, acredita que não há motivo para preocupação demasiada quanto à contaminação da gripe A. A melhor atitude é procurar atendimento médico logo que aparecerem os primeiros sintomas. Schaefer enfatiza que o cuidado deve ser o mesmo com todas as gripes e que o vírus H1N1 pode já ter atingido centenas de blumenauenses, sem gravidade. A seguir, ele esclarece mitos e verdades sobre a doença.
Jornal de Santa Catarina – Um dos boatos correntes é que o número de infectados e de mortos seria maior que o divulgado. Isso é possível?
Marcelo Schaefer – A quantidade de pessoas doentes com gripe A em Blumenau está provavelmente na casa das centenas. O vírus agora circula livremente e é preponderante sobre a gripe comum, em relação à contagiosidade. Das pessoas que estão gripando nesta época, muitas provavelmente contraíram o vírus da gripe A, desenvolveram uma doença leve, que é o mais comum, e tiveram nova gripe sem se dar conta. E como o protocolo do Ministério da Saúde não recomenda mais o acompanhamento dos casos leves, nós não temos mais controle sobre o número de pessoas com o vírus da gripe A, só daqueles mais graves. Por isso vale a recomendação de procurar o médico quando aparecerem sintomas iniciais, porque é o médico que vai avaliar se o quadro tem potencial de se agravar ou não. Quanto às mortes, todos os casos de doença respiratória aguda grave são identificados à Vigilância Epidemiológica. Nós não tivemos nenhuma morte em Blumenau com gripe A. Mas, infelizmente, é provável que tenhamos mortos pela gripe A porque a gripe comum mata 70 catarinenses por mês no inverno todos os anos.
Santa – Os hospitais estão evitando o uso de máscaras para não criar pânico na população?
Schaefer – Há duas situações em que se recomenda o uso de máscara no atendimento de serviço de saúde: pelo paciente sintomático e pelo médico e pelos enfermeiros que estão lidando com o paciente. Isso é um equipamento de proteção individual, o médico consciente sempre usou. O que paciente com sintomas deve fazer é utilizar a máscara para proteger as pessoas ao redor.
Santa – Algumas escolas adiaram a volta às aulas. O convívio escolar aumentará as chances de contágio?
Schaefer – Eu vejo que na situação de Santa Catarina, que não é de pré-epidemia, não há indicação para se interromper qualquer atividade normal. Nós hoje estamos vivendo uma situação de crise, mas que tem data para diminuir. Como toda gripe é sazonal, nós devemos ter em outubro a estabilidade climática e a queda das gripes – o frio predispõe a doenças respiratórias. Hoje o fundamental é que todas as pessoas que tenham os sintomas sejam bem atendidas.
Santa – A divulgação dos casos pela imprensa cria pânico?
Schaefer – Sim. Por que não se noticia com a mesma intensidade as 70 mortes de gripe por mês em Santa Catarina? Esse potencial de pânico não ajuda neste momento. As manchetes sobre morte não são na verdade a tradução de uma situação nova. A gripe mata. Nós temos é que aprender com essa crise, porque as pessoas realmente negligenciam a gripe, banalizam, tomam chá e remédio de balcão de farmácia, não vão ao médico e não ficam em casa uma semana, como recomendado.
Veículo: Jornal de Santa Catarina.
Edição: 11697.
Editoria: Geral.
Página: 11.