Ausência de balança reduz vida útil da 470

IBIRAMA – Apesar do investimento de R$ 13 milhões na reforma da Ponte de Ibirama e de a estrutura funcionar há cinco meses em meia-pista, o Vale do Itajaí está longe de encontrar a solução para o que causou o problema: o excesso de peso dos caminhões que trafegam na BR-470. Sem balança para pesagem, a rodovia, considerada o principal corredor para escoar a produção catarinense, sofre com os impactos da sobrecarga.

O Departamento Nacional de Infraestrutura e Transportes (Dnit) estima que pelo menos 70% dos caminhões transportam cargas em excesso. Buracos, deformações e fissuras na BR-470 são reflexos desse sobrepeso, que se agrava com a ausência de balanças para a fiscalização. Cargas 30% mais pesadas que o permitido diminuem de 10 para dois anos a vida útil do asfalto.

– As balanças têm papel fundamental na conservação das estradas. Hoje, uma rodovia é construída e, um ou dois anos depois, já necessita de manutenção – avalia o engenheiro civil, doutor em Logística e professor da Furb Helio Flavio Vieira.

Sem os aparelhos para aferir o peso das cargas, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) trabalha com base nas notas fiscais das mercadorias transportadas.

– É um tipo de fiscalização quase inútil de se fazer, porque as notas fiscais são adulteradas e nem sempre correspondem ao peso real. A falta de balanças dá tranquilidade aos que sabem que não serão punidos – reconhece o chefe da 4ª delegacia da PRF em Rio do Sul, Manoel Fernandes Bitencourt.

O maior volume de veículos de carga na BR-470 é de transportadoras de contêineres. O Departamento Nacional de Infraestrutura e Transportes (Dnit) calcula que, em média, quatro mil passem na rodovia por dia.

– O excesso de cargas é o maior inimigo de nossas pontes e rodovias. Mas os contêineres representam uma parcela inexpressiva de possíveis excesso de carga porque são pesados no porto – explica o engenheiro do Dnit em Rio do Sul, Elifas Marques.

A principal preocupação, na avaliação de Marques, é com caminhões bitrens (eles têm duas carrocerias) e Combinações de Veículos de Cargas (CVCs).

Excesso de carga

– A carga total de um caminhão pode ser distribuída pelo número de eixos que ele dispõe. Quando um caminhão tem mais eixos, ele consegue diluir esse peso em mais pontos de apoio. Caminhões normalmente usados em rodovias da região levam em média até 60 toneladas, de acordo com o engenheiro de Transportes e professor da Furb Alexandre Gevaerd. Na Ponte de Ibirama, o limite de carga para caminhões está em 45 toneladas.

A Ponte de Ibirama

– Localizada sobre o Rio Hercílio, a estrutura tem 225,50 metros de extensão. A ponte, inaugurada no início da década de 60, foi interditada em 29 de maio, quando um dos pilares da estrutura rompeu. O trânsito hoje está em meia-pista e a previsão de liberação total do tráfego é final de janeiro. Estão sendo feitos consertos no pilar afetado por rachaduras e também haverá reforços em toda a estrutura

Estudo prevê implantação de três balanças na rodovia

O Departamento Nacional de Infraestrutura e Transportes (Dnit) estuda a implantação de três balanças em pontos estratégicos na BR-470. Os locais mapeados para receber os aparelhos ficam em Gaspar, Apiúna e próximo a Pouso Redondo. A licitação para a escolha da empresa que vai instalar e operar as balanças está em processo de elaboração e deve ser lançada até o final do ano.

– Somos criticados pela necessidade de recapear as rodovias depois de pouco tempo de uso. Mas o problema está ligado ao excesso de peso dos veículos, e não à qualidade dos trabalhos – justifica o supervisor de Operações do Dnit em Santa Catarina, Edemar Martins.

Posto fiscal de Apiúna era usado com finalidade tributária

Na avaliação dele, a ausência de balanças na BR-470 é preocupante em vários aspectos, mas principalmente por
questões de segurança.

A BR-470 nunca teve balanças destinadas ao controle de peso dos veículos. Antes de ser desativado, o posto fiscal de Apiúna era usado pela Polícia Rodoviária Federal para o trabalho. Mas a balança existente ali não tinha fins de pesagem. A finalidade era de fiscalização tributária. A Federação das Empresas de Transporte de Carga e Logística de Santa Catarina (Fetrancesc) defende o descarregamento em caso de excesso de peso.

– Os contratantes da carga muitas vezes exigem que o caminhão carregue mais do que a capacidade dele. É uma economia perversa porque arrisca a vida do motorista e de outras pessoas, é uma decisão irresponsável – avalia o presidente da Fetrancesc, Pedro Lopes.

Veículo: Jornal de Santa Catarina.
Edição: 11756.
Editoria: Geral.
Página: 10.
Jornalista: Magali Moser (magali.moser@santa.com.br).