Empurra-empurra nas escolas

Mesmo que seja realizada de maneira gradativa, conforme prevê a legislação, a municipalização do ensino fundamental (até o nono ano de estudo) representa uma ameaça ao sistema atual de ensino e traria de volta o turno intermediário às escolas da região de Joinville. Essa é a conclusão a que chegaram prefeitos e secretários de educação de cidades do Norte do Estado que se reuniram ontem pela manhã na Associação dos Municípios do Nordeste de Santa Catarina (Amunesc).

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação prevê que todos os alunos da rede pública até a oitava série (nono ano do ensino fundamental) serão atendidos pelas escolas municipais.

"A ordem vem de cima, do governo federal, e os municípios já deviam ter se preparado", diz a gerente de ensino, Clarice Portella, referindo-se à determinação da Lei de Diretrizes e Bases que prevê a municipalização até 2011.

A orientação da Secretaria Estadual de Educação é para que, a partir do ano que vem, a primeira série já passe a ser responsabilidade dos municípios.

Como a rede estadual já tem uma demanda reprimida de matrículas do ensino médio, Clarice diz que o Estado não poderá ceder salas de aula para os municípios. "80% dos alunos do período noturno, que deveria ser destinado ao ensino de jovens e adultos, só estão matriculados à noite por falta de vagas", diz.

Sem contar que está tramitando no Congresso um projeto de lei para tornar o ensino médio obrigatório, o que tende a aumentar ainda mais essa procura. Por isso, a gerente de ensino reforça que já está prevista para 2010 a construção de quatro novas escolas de ensino médio em Joinville, onde foi identificada maior demanda.

Faltam salas de aula é prédio

Sem poder contar com a estrutura física do Estado, a rede municipal alega que faltam salas de aula e recursos para absorver essa demanda do ensino fundamental, considerando que o repasse hoje já está defasado, e precisa ser inteirado pelos municípios, segundo os prefeitos e secretários da região.

Só em Joinville seria necessário construir 50 novas salas de aula para atender aos alunos que migrariam da rede estadual para a municipal (cerca de 30 mil alunos). "Sem isso, teríamos que voltar ao turno intermediário, um retrocesso, considerando que conseguimos reduzir para mil o número de alunos nesse turno em Joinville", diz o secretário de Educação, Marco Aurélio Fernandes.

"Não temos condições. Falta espaço físico para atender todos esses estudantes", afirma João Pedro Woitexem, prefeito de Araquari. Segundo o prefeito, há 350 alunos em turno intermediário, de um total de 2,8 mil estudantes em nove escolas municipais.

Outra queixa diz respeito ao posicionamento de escolas estaduais com relação à matrícula. Os municípios estudam a possibilidade de recorrer à Justiça. Segundo secretários, algumas escolas estaduais já estão negando a matrícula para o ensino fundamental, o que promove a mudança forçada dos para a rede municipal. Segundo a gerente de ensino Clarice Portella, a orientação de encaminhar os alunos para escolas do município vale, em princípio, para a 1ª série.

EM JOINVILLE

A rede pública na cidade

Estadual

47 escolas estaduais.

40 mil alunos estão no ensino fundamental.

Municipal

90 escolas municipais.

63 mil alunos do ensino fundamental atendidos na cidade.

60 centros de educação infantil (quatro deles eram estaduais e foram incorporados esse ano pela rede municipal).

Proposta de mudança na lei

Para resolver o impasse, os representantes dos municípios decidiram convocar uma assembleia estadual no fim do mês para sugerir alterações no projeto de lei. Entre os pontos de discordância, está a questão do quadro funcional. Pela lei, caberia aos professores optarem por uma recolocação na rede estadual ou atuação na rede municipal. Neste caso, caberia ao município ressarcir o salário do professor ao Estado. O que é inviável, na opinião de secretários.

Os prefeitos vão exigir que o Estado se comprometa a construir as salas e o município utilize os recursos federais que passariam a receber para arcar com a folha.

Os municípios consideram que esta distribuição de tarefas já está desigual. Com a municipalização da educação infantil, implementada esse ano, os municípios passaram a arcar com um custo muito maior do que o repasse.

O prefeito Ervino Sperandio, de Itapoá, disse que o custo médio mensal de uma criança nas creches é de R$ 489. A Prefeitura recebe R$ 123 por aluno. O valor repassado da merenda é de R$ 0,22 por refeição. "Não gastamos menos do que R$ 1,30 por merenda, mesmo com a implantação de uma cozinha modelo, que atende a todas as escolas (sete escolas e 12 unidades de educação infantil)".

Veículo: Jornal A Notícia.
Editoria: Geral.
Página: 10.
Jornalista: Mariana Pereira (mariana.pereira@an.com.br).