Mais do que destacar a trágica contabilidade das vidas perdidas ao longo dos últimos dez anos na BR-470, a manchete de primeira página desta edição do Santa é uma espécie de retrato do descaso com que a mais importante rodovia do Vale do Itajaí – e uma das principais do Estado – tem sido tratada pelo poder público. Descaso que se traduz pela forma como foram ignorados neste período os sucessivos apelos e mobilizações da comunidade em favor da duplicação da estrada. E cujo resultado é a interminável sucessão de tragédias – e agora esta cifra lastimável de mil mortes – com as quais a população do Vale está obrigada a conviver.
Se é lúcido e indispensável que se ouçam as vozes alegando que são boas as condições de trafegabilidade na BR-470, uma estatística constante da reportagem publicada nas páginas 16 e 17 desta edição é irrefutável: embora representem apenas 5% do total de acidentes, as colisões frontais – típicas de estradas com pistas simples – são responsáveis por mais da metade das vítimas fatais registradas na rodovia desde 2000. Mortes que poderiam ser evitadas em uma rodovia duplicada, com a separação física entre as duas mãos de trânsito.
É devido a esta inesgotável capacidade que tem a BR-470 de ceifar vidas, de produzir feridos – muitos com graves sequelas – e de causar prejuízos, é por sua inestimável importância como corredor de passagem de boa parte da produção catarinense, mas é sobretudo por ser uma aspiração da comunidade que a duplicação desta rodovia ocupa espaço destacado na cobertura editorial deste jornal. E enquanto esta necessidade não for suprida e esta contabilidade interrompida, o Santa não se cansará de ser a voz do Vale em favor do redimensionamento da BR-470.
Veículo: Jornal de Santa Catarina.
Edição: 11778.
Editoria: Opinião do Santa.
Página: 3.