BLUMENAU – A chuva era insistente desde quinta-feira. Foram 219,7 milímetros de chuva em cinco dias, 98,7% a mais do que a média histórica para abril, que é de 110,6 milímetros. O Rio Itajaí-Açu transbordou em Blumenau às 6h de segunda-feira e chegou ao pico, em 8,46 m, às 19h. Mas a estrutura de prevenção de cheias só conseguiu afirmar que daria enchente com seis horas de antecedência. É o máximo possível com a tecnologia disponível, garantem os técnicos da Defesa Civil e do Centro de Operações do Sistema de Alerta da Bacia Hidrográfica do Rio Itajaí-Açu (Ceops) da Furb, responsável pelo cálculo. Por precaução, domingo à noite um comunicado oficial e carros de som nas ruas com cotas mais baixas dispararam o alerta (quando o rio atinge os 6 m). Mas a certeza só veio durante a madrugada.
– Se fosse dar o alerta antes, a enchente poderia não acontecer. Temos o cuidado de emitir o alerta no tempo necessário para a pessoa retirar os pertences e cuidar dos familiares. Para fazer uma previsão mais antecipada, tem que ter ferramentas que nós não dispomos, como um radar – completa Carlos Menestrina, secretário de Defesa Civil.
Volume de chuva e pontos onde vai cair são imprevisíveis com atual tecnologia
Os cálculos são feitos com base nos dados captados pelas estações telemétricas e réguas espalhadas em 16 pontos da Bacia do Rio Itajaí-Açu. Com os equipamentos de hoje, a previsão com mais antecedência só seria possível se chovesse 24 horas seguidas. Fatores imprevisíveis como volume de chuva e os pontos onde ela cai interferem no cálculo, explica o coordenador do projeto de modernização do sistema de alerta de chuvas da Furb, Dirceu Luis Severo:
– Nosso cuidado é não dar informação com tanta antecedência porque as condições mudam. Parava de chover e depois recomeçava. Sem chuva, o modelo dava uma previsão. Com mais duas horas de água, aí o cálculo precisava ser refeito e a previsão mudava.
Diretor de Prevenção e Preparação da Defesa Civil, o major Aldo Batista Neto explica que trabalha apenas com as informações do Ceops. O boletim da Furb, segundo ele, só chegou indicando enchente às 3h:
– À noite, quando anunciamos possibilidade de enchente, foi com base nos dados colhidos por telefone com os municípios. Como chovia muito, não tínhamos mais como descartar.
Sistema de telemetria |
O que é |
– Conjunto de 16 sensores instalados em pontos estratégicos dos rios Itajaí-Açu, Itajaí-Mirim e afluentes. O sensor fica dentro do rio, conectado ao pluviômetro, instalado em um abrigo para captar e transmitir a quantidade de chuva até a central, em Blumenau. Os sensores permitem também prever em quanto tempo os rios atingirão determinado nível |
Como é feita a transmissão |
– Três sensores transmitem via satélite e 13, via celular. As transmissões ocorrem de hora em hora, para o Centro de Operações do Sistema de Alerta da Bacia Hidrográfica do Rio Itajaí-Açu (Ceops), na Furb, em Blumenau, e para órgãos de monitoramento nos municípios, como a Defesa Civil |
Onde estão os sensores |
– Indaial, Timbó, Apiúna, Barra do Prata, Mirim Doce, Pouso Redondo, Ituporanga, Alfredo Wagner e Botuverá. Os sensores de Ibirama, Rio do Oeste, Vidal Ramos, Brusque, Blumenau, Rio do Sul e Taió estão desativados |
Veículo: Jornal de Santa Catarina.
Edição: 11924.
Editoria: Geral.
Página: 10.
Jornalista: Isabela Kiesel (isabela.kiesel@santa.com.br).