A avaliação do rendimento escolar e das taxas de aprovação e reprovação da educação básica brasileira revela que o país melhora em ritmo mais acelerado nos níveis iniciais do ensino fundamental, mas evolui mais devagar à medida que os alunos avançam até o ensino médio.
O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) de 2009, divulgado ontem pelo Ministério da Educação (MEC), em Brasília, registrou melhor desempenho nos anos iniciais do ensino fundamental (da 1ª à 4ª séries), com 4,6 pontos – crescimento de 0,4 ponto em relação à apuração de 2007. A nota dos alunos da 5ª à 8ª séries da rede pública cresceu de 3,8 para 4 em dois anos. No ensino médio, a variação foi mais tímida: a média passou de 3,5 para 3,6.
Ilona Becskeházy, diretora executiva da Fundação Lemann, explica que problemas de formação e qualificação de professores podem justificar por que a evolução da qualidade não segue ritmos parecidos entre as etapas de ensino. "É esperado que a 4ª série ande mais rápido, o nível de complexidade é mais baixo. A partir da 5ª série, o aluno começa a trabalhar com estruturas cognitivas mais complexas, precisa desenvolver análise de conteúdo mais complicadas. O professor também passa a ser mais exigido, mas há várias dificuldades de qualificação, de salário. No contexto brasileiro há até déficit de professores para ensinar química, física", avalia ela.
O ministro da Educação, Fernando Haddad, prevê um movimento inverso do Ideb nos próximos anos. "Provavelmente observaremos daqui para frente um crescimento um pouco mais modesto nos anos iniciais e mais forte nos anos finais e no ensino médio, que vão colher o esforço que foi feito para que as crianças tivessem um aprendizado melhor", avaliou o ministro.
Segundo o economista especializado em políticas educacionais Naercio Menezes Filho, professor do Insper, a expansão da pré-escola e a melhora do nível socioeconômico das famílias pobres explicam o bom desempenho nas séries iniciais da educação básica. "O fluxo escolar começou a se normalizar entre 2001 e 2003, e os resultados positivos começaram a aparecer a partir daí."
Segundo ele, o combate à evasão pode respingar positivamente no ensino médio. "É difícil implementar ações para melhorar o ensino médio, porque tudo depende do que acontece nos primeiros anos da educação básica, que ainda tem índice de evasão de 16%. O desafio maior é manter os alunos na escola e elevar o nível de qualidade, porque eles vão chegar para melhorar o ensino médio", diz Naercio.
Criado em 2007, o Ideb avalia, a cada dois anos, as taxas de aprovação, reprovação e abandono escolar e as médias das notas dos alunos nas principais avaliações nacionais, o Saeb e a Prova Brasil. A combinação desses dados resulta em uma média, que vai de zero a dez. No ano passado, a Prova Brasil foi aplicada nos anos iniciais e finais do ensino fundamental em quase 5,5 mil municípios para 4,5 milhões de alunos. Outros 56,3 mil jovens 3º ano do ensino médio de 750 escolas responderam a prova.
O Plano de Desenvolvimento da Educação estabelece que o país alcance Ideb 6 até 2022. Todas as metas provisórias do Ideb 2009 foram atingidas, de acordo com Fernando Haddad. "Temos condição de cumprir, a cada dois anos, as metas de qualidade e chegar em uma situação confortável em dez anos, quando teremos uma educação na qual a média de proficiência das crianças equivale à das crianças dos países mais desenvolvidos do mundo", avaliou o ministro.
Para Menezes Filho, a meta brasileira é factível. "Não é tão ambiciosa, mas estamos conseguindo melhorar. Não há como negar que estamos progredindo, em passos lentos, é preciso admitir. Se continuarmos nesse ritmo, em 2022 vamos ter a qualidade da educação que os países da OCDE tinham em 2005", diz o professor.
Veículo: Jornal Valor Econômico.
Editoria: Brasil.
Jornalista: Luciano Máximo, de São Paulo.