O Brasil caiu duas posições no Índice Global de Competitividade do Fórum Mundial de Economia, ficando em 58º lugar entre 139 países. A queda é atribuída a "fraquezas preocupantes" na infraestrutura, impostos pesados, juros altos, desvio e desperdício de recursos públicos.
A competitividade da economia brasileira é mostrada como inferior a de países como Tunísia, Barbados, Montenegro e Azerbaijão, economias controladas por regimes duros, e deixa dúvidas sobre a credibilidade do índice. O próprio fato de a Suíça ser o mais competitivo, com economia cartelizada e a agricultura mais subsidiada do planeta, causa controvérsias.
O Fórum, porém, defende seus indicadores. Um assessor argumentou em entrevista na sede europeia das Nações Unidas, ontem, que a classificação do Brasil é reforçada pela percepção de líderes empresariais consultados em pesquisa. Foram ouvidos 13.500 executivos, sendo 168 no país, levando em conta 12 "pilares de competitividade".
Por essa percepção, a economia brasileira não é mais competitiva por causa do efeito da carga tributária (139º lugar, o último do índice), o peso da burocracia sobre os negócios (139º ), ensino de base fraco (127º ), os spreads das taxas de juro nas alturas (136º ), "pobre qualidade da infraestrutura", tudo isso combinado com o tamanho do "desvio de recursos públicos" (posição 121), que é o nome que o Fórum dá à corrupção, à dimensão do desperdício nos gastos do governo (136º lugar), confiança limitada nos políticos e na Justiça.
O relatório dá foco especial à infraestrutura, que resulta em custos logísticos maiores e dificuldades nas exportações, e conclui que, apesar de melhoras já ocorridas, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), três anos depois de seu lançamento concluiu menos da metade de seus objetivos. O ambiente macroeconômico também é alvejado, pela baixa taxa de poupança (15%, a 101ª menor) e alto endividamento público (48% do PIB, na 84ª posição).
Por outro lado, entre as "sólidas vantagens competitivas" do Brasil está o tamanho de seu mercado, permitindo eficiência e dinamismo dos negócios com economia de escala, sofisticação empresarial, capacidade de absorção e inovação. O Fórum aponta, sobretudo, o fato de o Brasil ter um dos "mais desenvolvidos e sofisticados" setores financeiros (50º lugar), sistema de educação superior bom e boa preparação técnica dos trabalhadores.
Em vários aspectos da avaliação, como o de instituições, que inclui desperdício dos gastos do governo e corrupção, o Brasil está na companhia de países africanos e asiáticos de combalida reputação. Pelo relatório, o "desvio de dinheiro público" no país seria maior do que no Cazaquistão, onde um grupo tribal divide a riqueza.
Entre os grandes emergentes, o Brasil, que produz de avião a jato a agricultura sofisticada, tem competitividade abaixo daquela da China (27º lugar) e Índia (51º). Na América Latina, é superado pelo Chile e Porto Rico (41ª posição), e Barbados (43ª ). Isso apesar de ter pulado 16 posições nos últimos dois anos, que o Fórum atribui à melhora na estabilidade macroeconômica, liberalização e abertura da economia e redução da desigualdade. Diz que tudo isso permitiu ao Brasil se sair bem da crise global. Ressalva que a competitividade do Brasil melhorou, só que a de vários outros países melhorou mais.
No topo, a Suíça é seguida de Suécia, Cingapura, Estados Unidos, Alemanha, Japão, Finlândia, Holanda, Dinamarca e Canadá. A China é o mais competitivo dos países em desenvolvimento.
Veículo: Jornal Valor Econômico.
Edição: 2588.
Editoria: Brasil.
Página: A5.
Jornalista: Assis Moreira.