A América Latina, entre as regiões em desenvolvimento, é a que tem indicadores de desenvolvimento humano mais próximos dos países desenvolvidos, segundo relatório divulgado ontem pelas Nações Unidas. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) latino-americano é de 0,704, mais próximo do indicador (0,879) dos países desenvolvidos da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) que o IDH dos países da Ásia e Pacífico. Os indicadores de educação, como matrículas, e os de expectativa de vida são os que mais se aproximam da situação nos países da Europa e da América do Norte, segundo os autores do Relatório de Desenvolvimento Humano.
É na educação que o Brasil mais precisa fazer esforços para se aproximar da média da região, e dos dez países latino-americanos mais bem colocados no IDH. A média de anos de escolaridade da população com 25 anos ou mais, um novo parâmetro incluído no indicador neste ano, é de 7,2 anos no Brasil, bem abaixo dos 9,6 anos do Peru, 63º colocado no IDH, ou dos 8,3% da Costa Rica, o 62º. Na Argentina, são 9,3 anos, e no Chile, 9,7. A média da região é de oito anos. O nível de matrículas no ensino superior no Brasil, de 30% da população em idade para frequentar a universidade, é inferior ao da Bolívia.
A América Latina tem apenas um país listado como de "desenvolvimento humano muito elevado", a ilha caribenha de Barbados, bem colocada principalmente devido à alta renda per capita. A expectativa de vida na ilha, de 77,7 anos, é bem superior à média da região, de 74 anos – e muito acima dos 72,9 anos da média brasileira.
O relatório destaca o Brasil, porém, ao lado da Bolívia e da Guatemala entre os três países latino-americanos com maior crescimento no IDH desde 1970. É também um dos países mais citados nos trechos que mencionam como políticas sociais – como o Bolsa Família – podem gerar resultados positivos na redução de desigualdades e melhoria das condições de desenvolvimento humano.
Apesar da melhoria no desempenho da região latino-americana, ela está ainda entre as de pior distribuição de renda do mundo – nove países latino-americanos, especialmente Haiti, Bolívia e Guatemala, estão entre os 15 de pior distribuição de renda, notam os autores do relatório.
A distribuição desigual da riqueza e dos serviços de saúde e educação pode ser notada mais claramente quando se comparam o IDH e o novo índice criado para refletir essa desigualdade, o IDHA, que reduz a pontuação do país segundo critérios de desempenho entre os diversos segmentos da população. Ao medir o desenvolvimento pelo IDHA, o Brasil fica em 88º lugar. O IDHA (a de "ajustado" de acordo com indicadores de desigualdade) é, no Brasil, 27,2% inferior ao IDH tradicional.
Outros cinco países latino-americanos têm uma redução ainda maior: no Peru, ela é de 30,7%, em Belize, de 28,7%, na Colômbia chega a 28,6%, no, Panamá, 28,3%, e na Argentina, 27,5%. Desde ontem, o Programa para o Desenvolvimento das Nações Unidas, responsável pelo IDH, oferece em seu site o que os técnicos chamam de IDH 2.0, uma base estatística que permite montar o indicador usando diferentes parâmetros .
Veículo: Jornal Valor Econômico.
Edição: 2627.
Editoria: Brasil.
Página: A4.
Jornalista: Sergio Leo, de Brasília.