IBGE estuda substituir modelo atual do Censo

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) estuda métodos alternativos de medidas de população. Uma das ideias é um novo modelo pelo qual não seria mais feita a contagem de toda a população e a coleta de dados de todos os domicílios de uma única vez e a cada dez anos, como acontece no Censo atual. Os dados seriam coletados ano a ano, com base em amostragens.

Os levantamentos anuais seriam feitos com base em uma amostragem suficiente para coleta de dados que possa servir como base para verificar a evolução da população com os respectivos dados sociais, demográficos e habitacionais, em âmbito nacional, estadual e municipal. Hoje, o IBGE já tem a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), feita anualmente. Mas ela não coleta todos os detalhes do Censo e também não permite enxergar os dados por município, por exemplo.

O presidente do IBGE, Eduardo Pereira Nunes, lembra que essas pesquisas ou mudanças no cálculo da população não devem ser aplicadas imediatamente. Assim como tivemos o Censo de 2000 e 2010 com a pesquisa em todos os domicílios do país, diz, teremos o Censo de 2020, talvez apenas com algumas mudanças nos questionários. Embora não saiba precisar quando, Nunes acredita ser viável, porém, que antes do Censo de 2020 o IBGE já possa fazer levantamentos anuais com abrangência maior do que faz hoje.

A grande vantagem desse novo modelo é a possibilidade de ter dados anuais sobre toda a população, o que gera informações importantes não só para investidores como também para a formulação de políticas públicas.

A ideia de substituir a pesquisa em todos os domicílios de uma única vez – o modelo atual do Censo – por métodos alternativos não é nova e nem uma invenção brasileira. Integrante do conselho do Censo de 2010, o professor Wilton de Oliveira Bussab, da Fundação Getulio Vargas (FGV), lembra que na, década de 80, um especialista lançou a ideia de substituir a contagem total por uma pesquisa baseada em 120 amostras. O levantamento de dados seria feito mensalmente e, ao fim de dez anos, haveria a cobertura de toda a população.

Bussab lembra que a ideia, na época, foi alvo de fortes críticas, mas atualmente países como a França, por exemplo, adotam formas de censo demográfico que usam, ao menos em parte, amostragens que dão base para pesquisas anuais. A população das pequenas cidades, por exemplo, é dividida em cinco amostragens diversas. Ao fim de cinco anos, a população das pequenas cidades é coberta. Bussab lembra, porém, que a adoção de um novo método traz necessidade de mudanças, como melhora nos registros de dados, além de avanços tecnológicos e metodológicos.

Nunes defendeu a adoção de novos métodos em debate promovido pelo Instituto Fernand Braudel, em São Paulo. Segundo ele, a mudança não requer novas normas e o IBGE vem investindo nisso, enviando anualmente profissionais ao exterior. Mas a mudança, lembra, ainda não é consenso no órgão e nem entre especialistas.

Veículo: Jornal Valor Econômico.
Edição: 2651.
Editoria: Brasil.
Página: A3.
Jornalista: Marta Watanabe, de São Paulo.