Em dois anos, Blumenau demoliu 600 casas em área de risco

Depois da enchente de novembro de 2008, que matou 135 pessoas e deixou mais de 33 mil desabrigados em todo o Estado de Santa Catarina, a prefeitura de Blumenau, uma das mais afetadas pelas inundações, ordenou a demolição, entre 2009 e 2010, de 600 residências localizadas em áreas de risco, além de emitir 10 mil relatórios de vistoria técnica.

A demolição resume as transformações adotadas pelo governo municipal na área de defesa civil após a tragédia de dois anos atrás – o mapeamento do risco cresceu, ações preventivas foram adotadas, mas a cidade ainda espera um sistema de monitoramento das cheias do rio em tempo real, em substituição ao controle manual feito hoje.

As autoridades deram prioridade às casas em estado mais crítico, às que já tinham sido abandonadas e aos casos em que a família já estava em um abrigo ou em uma nova casa. Segundo o secretário da Defesa Civil de Blumenau, major Aldo Baptista Neto, nos próximos dois anos será feita a demolição de outras 2 mil casas que ainda oferecem risco à população.

O secretário conta que, após a enchente, a prefeitura buscou explicações para o que havia ocorrido e iniciou o mapeamento de áreas de risco para minimizar os impactos de novas ocorrências semelhantes. A Defesa Civil, que era uma diretoria ligada ao gabinete do prefeito, ganhou status de secretaria. O plano de áreas de risco foi atualizado: de 17 áreas críticas, o município passou a controlar 35. "Houve deslizamento de terra em áreas que nunca imaginávamos", diz Baptista.

O município também criou uma Diretoria de Geologia na Secretaria de Planejamento Urbano, em convênio com o Instituto de Geotécnica do Rio de Janeiro (Georio). O trabalho foi responsável por identificar os pontos críticos na cidade, o que gerou uma Carta de Uso Recomendado do Solo. Esse mapeamento foi incorporado ao Plano Diretor da Cidade e aprovado pela Câmara de Vereadores em 2010.

Além de um raio-x detalhado da formação geológica da cidade, a prefeitura reforçou a fiscalização. Segundo o secretário da Defesa Civil, antes do desastre cinco profissionais atuavam diretamente na fiscalização de obras irregulares no município. Hoje, são 20 fiscais com capacidade para embargar uma obra que não tenha alvará.

Apesar do susto enfrentado pelos moradores durante as inundações de 2008, o secretário relata que há resistência de moradores em deixar casas em área de risco. O próximo passo, previsto para 2011, é a criação de núcleos de Defesa Civil nas comunidades, para que os moradores conheçam os riscos de construir casos em áreas inseguras e possam advertir os vizinhos e ajudar no trabalho de fiscalização.

Em 2008, Baptista integrava o Corpo de Bombeiros de Blumenau. Não era a primeira vez que a cidade enfrentava dificuldades por causa da força da água. Em 1983, o rio Itajaí transbordou e deixou o centro da cidade submerso. Depois do episódio na década de 80, Blumenau criou um plano para lidar com enchentes. Mas o evento de 2008 obrigou a cidade a rever tudo o que tinha sido planejado.

"Estávamos preparados para lidar com uma enchente, mas foi a primeira vez que tivemos de lidar com uma enxurrada com escorregamentos de terra", conta o secretário. O plano de 34 abrigos, por exemplo, teve de ser ampliado para 64, além de outros 12 espaços não oficiais que serviram para acolher as pessoas que, após a enchente, que não tinham como voltar para casa.

O monitoramento do nível da água também foi reforçado em 21 estações ao longo do rio Itajaí. O trabalho, todo manual, de aferição visual, é feito em parceira com a Universidade Regional de Blumenau (Furb). Segundo Baptista, a expectativa é que o município consiga R$ 2 milhões em recursos da Defesa Civil, ligados ao Ministério de Integração Nacional, para a instalação de um sistema de monitoramento do nível das águas em tempo real. O processo ainda está em fase de aprovação de projeto em Brasília, diz o secretário.

Veículo: Jornal Valor Econômico.
Edição: 2676.
Editoria: Brasil.
Página: A4.
Jornalista: Júlia Pitthan, de Blumenau.