Secretário de Defesa Civil de Blumenau desde setembro de 2010, o major Aldo Batista Neto tem pela frente a instalação do Sistema de Monitoramento de Enxurradas e Deslizamentos e o controle da fiscalização de obras em áreas de risco. Neto também integra o Grupo de Apoio a Desastres (Gade), força nacional que apoia estados e municípios vítimas de desastres. Ele passou 11 dias na região serrana do Rio de Janeiro, castigada pela chuva.
Jornal de Santa Catarina – Quando tivermos o Sistema de Monitoramento de Enxurradas e Deslizamentos será possível prever desastres até seis horas antes, como as enchentes?
Aldo Batista Neto – Será no mesmo modelo. Este novo projeto é exatamente o mesmo que a cidade do Rio implantou. Nós vamos chegar ao ponto de que, quando o software reconhecer que o Morro do Artur está vindo abaixo, automaticamente o sistema fará a ligação para o morador, avisando que é melhor deixar o local pois haverá deslizamento. Mas isso não ficará pronto até o final do ano, junto com o sistema em si. A Furb e o Ceops continuarão fazendo o monitoramento da enchente e a Geologia ficará com o novo sistema. A Defesa Civil receberá informações dos dois locais.
Santa – E se chover igual ao último fim de semana, teremos como prevenir?
Neto – O que vamos fazer ainda esta semana, pois no site da prefeitura não tem, é colocar um símbolo bem grande da Defesa Civil, com todos os links para informações que ajudam na prevenção. Vamos fazer uma campanha para ensinar a população. Todo mundo vai ter que aprender a lidar com a nossa atual situação, entender que não há lugar 100% seguro. O nosso maior desafio é a mudança cultural.
Santa – E quanto às áreas de risco, vão apertar a fiscalização?
Neto – Desde 2008, com a criação da Diretoria de Geologia, você precisa ter um documento de análise de solo para construir. Antes, a pessoa tinha que se preocupar somente com o rio, com a cota de enchente. Hoje, há também um mapa geológico que orienta os locais onde não há risco de deslizamentos. Quem não pede o alvará, a fiscalização pega. A maioria dos flagrantes é feita por denúncia. Mas, quando a fiscalização só descobre a obra acabada, é outra história. Ninguém é tirado de casa sem seja providenciado um novo lugar para abrigá-los. A responsabilidade é nossa.
Santa – O senhor esteve no Rio de Janeiro, prestando consultoria no atendimento às vítimas do desastre na região serrana, pelo Grupo de Apoio a Desastres (Gade). Como surgiu o convite?
Neto – A escolha é feita pelo histórico em trabalhar em desastres. Dentro da minha formação de Bombeiro Militar, há as cadeiras de Defesa Civil e Gestão de Risco. Nas duas pós-graduações que fiz, tive matérias de Gestão de Risco. Busquei aperfeiçoamento nesta área. Depois do nosso novembro de 2008, dos eventos em Pernambuco e Alagoas, a Defesa Civil nacional criou o Gade, que tem 30 profissionais formados em Brasília e espalhados por todo o Brasil. Em Santa Catarina, somos quatro. Repassamos relatórios para o Ministério da Integração Nacional. Há documentos exigidos para que se decrete a situação de emergência e o estado de calamidade. Em vez do município enviar a documentação a Brasília e esperar, a gente faz a ponte.
Santa – Deu para aprender algo por lá que possamos aplicar aqui?
Neto – Lá foi muito maior porque é mais íngreme e tem mais gente. A questão dos donativos, por exemplo, deu para pensar em uma organização melhor para cá, com uma central estadual. Saímos de lá com a certeza de que devemos apertar cada vez mais a legislação e a fiscalização, que é algo que começamos aqui há dois anos. Estamos trabalhando no intuito de estancar o mal futuro.
Veículo: Jornal de Santa Catarina.
Edição: 12129.
Editoria: Geral.
Página: 11.
Jornalista: Daniela Pereira (daniela.pereira@santa.com.br).