GASPAR/ILHOTA- O dinheiro que Neca Prebianca ganha com o trabalho como costureira serve para custear o transporte das crianças à escola e a energia elétrica da casa onde mora com a família, na zona rural de Gaspar. Contas que antes eram pagas com a venda do arroz colhido na propriedade, hoje precisam ter outra fonte. Ela ajudava o marido Sérgio Prebianca na roça até um ano atrás, mas o rendimento da lavoura diminuiu e teve de aprender a costurar. A queda de 45% no preço da saca do grão, em relação há um ano, e as fortes chuvas são agravantes que têm trazido prejuízos aos que vivem do plantio de arroz no Vale do Itajaí. As perdas na região já ultrapassam os R$ 15 milhões, segundo a Epagri. Assim como Neca, outros rizicultores têm procurado alternativas de trabalho para sobreviver.
– Eu via minha família sofrendo com as perdas da lavoura, precisei fazer alguma coisa para ajudar – conta a costureira.
De acordo com a Epagri/Ciram, o mês de janeiro registrou um índice pluviométrico superior ao médio esperado. Normalmente, são registrados 238,3 milímetros de chuva no primeiro mês do ano no Vale. Mês passado, o acumulado foi de 307,7 mm. As cidades mais atingidas pelas chuvas no Vale, além de Gaspar e Ilhota, foram Taió, Massarambuba e Mirim Doce, que também tiveram perdas na produção agrícola. De acordo com o Centro de Socioeconomia e Planejamento Agrícola da Epagri (Cepa), foram prejuízos de até 20% nas lavouras de arroz do Vale. Há cerca de 9 mil rizicultores na região.
Com a produção em alta, principalmente no Rio Grande do Sul – que é o principal produtor brasileiro do grão -, o preço pago ao produtor por saca caiu de R$ 34 em janeiro do ano passado para os atuais R$ 19. Além de colher menos sacas por conta da chuva, o rizicultor vai receber menos por elas.
Prejuízos nas lavouras de Ilhota ultrapassam os R$ 4 milhões
Em Gaspar, 230 famílias sobrevivem da cultura do arroz. A maioria vai colher 20% a menos, em relação à safra passada.
– É triste ver um ano inteiro de trabalho desperdiçado em horas de chuva. Rezamos para isso não acontecer de novo – lamenta Prebianca.
Cansadas de lidar com a emergência dos agricultores, a Secretaria de Agricultura de Gaspar e a Epagri querem incentivar outras alternativas de produção. O titular da secretaria, Alfonso Bernardo Hostert, explica que diante das intempéries do preço e do clima, os produtores não podem mais ficar dependentes do arroz. É necessário investimento em outros cultivos, como de hortaliças. A recém inaugurada Casa do Agricultor vai promover cursos sobre produção de verduras e legumes.
– Hoje, a maioria das famílias aposta em facção. Queremos dar outras alternativas para evitar o êxodo rural – explica o secretário.
Farto de ser atingido pelos desastres do clima, Antônio Pasqualini, morador do Braço do Baú em Ilhota, montou uma serraria nas margens da BR-470. Em 2008, perdeu toda a plantação de arroz. Analisou que não poderia ficar mais a mercê do tempo. Hoje, sustenta a família com as duas atividades. Com as últimas chuvas, teve uma perda de quase 50% da produção do arroz.
Ilhota teve prejuízo superior a R$ 4 milhões com perdas nas lavouras e de equipamentos agrícolas. São mais de seis toneladas perdidas do grão nesta safra.
As perdas (anexo)
Veículo: Jornal de Santa Catarina.
Edição: 12132.
Editoria: Economia.
Página: 8.
Jornalista: Raquel Vieira (raquel.vieira@santa.com.br).