Por que o Brasil vai crescer menos em 2011

Depois de 2010, ano em que o crescimento econômico passou dos 7%, a perspectiva é de que o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil deverá crescer, no máximo, 4,5% em 2011. Segundo economistas, empresários e analistas de mercado, faltam infraestrutura e condições adequadas para uma expansão maior, o que obriga o próprio governo federal a conter o aquecimento da economia.

Uma das primeiras medidas econômicas do novo governo federal foi restringir o crédito para os consumidores e retirar R$ 61 bilhões da economia com o aumento dos compulsórios bancários. O objetivo das medidas é combater a inflação, que, no ano passado, fechou em 5,91%, a maior taxa desde 2004. Analistas de mercado apostam, ainda, no aumento dos juros para impedir que o índice inflacionário continue em alta.

Essas medidas são todas restritivas ao crescimento econômico. Mas o motivo principal da performance inferior à de 2010 é a falta de condições e base de sustentação para um crescimento continuado na casa de 7%. Com mais emprego e renda, os brasileiros estão dispostos a consumir e gastar, mas o Brasil não tem como atender a essa demanda aquecida.

De acordo com o presidente do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário, João Elói Olenike, o país não tem como produzir mais por falta de infraestrutura e de investimentos. A chave seria reduzir o gasto público e aplicar mais recursos em obras.

– Não é por falta de arrecadação. É que o gasto com custeio é excessivo. Em 2010, o país arrecadou R$ 1,27 trilhão em impostos, 15,9% a mais do que em 2009. Para 2011, a previsão é de que o impostômetro ultrapasse os R$ 1,4 trilhão, 10% a mais do que no ano passado – alerta.

O vice-presidente da Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc), Glauco José Côrte, lembra que o PIB de 2009 foi negativo e por isso o crescimento de 2010 foi tão expressivo.

– Em 2010, o cálculo foi feito sobre uma base deprimida, por isso o crescimento foi maior. Em 2011, teremos um teto para o crescimento por conta das condições de infraestrutura, estradas e portos precários, por exemplo, que limitam o crescimento. Além disso, sempre que há crescimento acelerado, o governo toma medidas para não permitir a inflação. Ou seja, temos condicionantes físicos e econômicos para o crescimento de apenas 4,5% – explica.

Conforme o professor da Fundação Instituto de Administração (FIA) Bolívar Godinho, os números de 2010 também foram favorecidos pela medidas que o governo tomou para combater a crise de 2009. Houve desoneração de tributos, aumento do crédito e vários estímulos.

– Agora, o governo está restringindo o crédito. Isso terá impacto no consumo e no crescimento da economia. É preciso arrumar a casa para crescer com sustentabilidade. O governo precisa reduzir gastos, investir mais em infraestrutura e criar um ambiente propício para que a iniciativa privada também aumente os seus investimentos – destaca Godinho.

Santa Catarina deve acompanhar o ritmo

Santa Catarina, tradicionalmente, tem superado o crescimento nacional, segundo o presidente do Conselho Regional de Economia (Corecon/SC), Paulo de Tarso Guilhon. No entanto, ele considera que, em 2011, isso pode não ocorrer.

– O governo de SC já deu sinais de que vai fechar as torneiras. O governador Raimundo Colombo anunciou que vai colocar um torniquete agora para investir forte no segundo semestre. Portanto, a projeção regional também é crescer menos do que em 2010. Talvez o Estado nem mantenha a tradição de crescer um pouco a mais do que o Brasil por conta disso – avalia.

BOLÍVAR GODINHO
Professor da FIA

"É preciso arrumar a casa para crescer com sustentabilidade. O governo precisa reduzir gastos, investir em infraestrutura e criar um ambiente propício para a iniciativa privada."

Expectativas de mercado (anexo).

Veículo: Jornal Diário Catarinense.
Edição: 9053.
Editoria: Economia.
Página: 20.
Jornalista: Simone Kafruni (simone.kafruni@diario.com.br).