Sob fortes pancadas de chuva e em clima de feira de agronegócio, cerca de 15 mil produtores rurais pediram ontem a deputados e senadores a imediata aprovação da proposta de novo Código Florestal Brasileiro, aprovada em julho de 2010 por uma comissão especial da Câmara.
Entre discursos inflamados e autoelogios à bancada ruralista, parlamentares ligados ao campo tiveram reforço de deputados estaduais, magistrados e até o governador de Mato Grosso do Sul, André Puccinelli (PMDB). A megaestrutura do evento custou R$ 3 milhões aos cofres de dez instituições ligadas ao lobby ruralista, segundo apurou o Valor.
Grandes mesas de frutas, pães e bolos dividiam espaço com latas de suco, água mineral e 10 mil litros de leite nos gramados da Esplanada dos Ministérios. A maioria era do Paraná, Goiás e Mato Grosso. Mas via-se bonés de Rondônia e Rio Grande do Sul. Ao farto café da manhã, seguiu-se um almoço comunitário regado a dez toneladas de "arroz de carreteiro". Antes disso, uma missa campal foi rezada em frente ao Congresso. Coube à presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA), senadora Kátia Abreu (DEM-TO), puxar a católica "oração dos fiéis" pela urgente aprovação do relatório do deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP).
O cenário montado pelos ruralistas não conseguiu, porém, arrancar o anúncio da data de votação do relatório em plenário. Esse era o papel reservado ao presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS). Mas o dirigente não só descumpriu o roteiro planejado como abriu uma porta indesejada pelos ruralistas: recebeu a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, e defendeu o adiamento da decisão sobre o Código Florestal, em vigor desde 1965.
A ministra saiu do encontro pregando, em nome do governo, a reedição de um decreto para adiar multas e sanções a produtores em situação ambiental irregular. Marco Maia anunciou a prorrogação, "por mais 15 dias" de uma comissão de negociação por ele criada para tentar um consenso entre ruralistas e ambientalistas. Pressionada por ONGs ambientalistas, Izabella negocia uma saída honrosa. Quer evitar "anistia" e exceções para a obrigação de recomposição das áreas mínimas nas fazendas (reservas legais). Mas o Palácio do Planalto tende a fechar com a maioria da base governista no Congresso. Sete partidos fecharam questão em favor do relatório Rebelo. O PMDB é o mais importante. Mas parte do PT ainda resiste. Na contramão, estão apenas partes do PV e todo o PSOL. Além disso, senadores já antecipam as discussões e pedem aos deputados a manutenção de algumas polêmicas para garantir a audiência e cabalar votos nas bases ruralistas. O relator está no meio do fogo cruzado e tenta preservar ao máximo seu texto original. Peregrina de bancada em bancada e negocia para impedir a ação de radicais de lado a lado. É uma tarefa nada fácil.
No fim da "mobilização", já em clima de despedida e acomodados em estimados 400 ônibus, restou aos produtores contentar-se com os discursos e as promessas de parlamentares ruralistas sobre os planos para acelerar a votação do novo código.
Veículo: Jornal Valor Econômico.
Edição: 2730.
Editoria: Política.
Página: A7.