Raimundo Colombo (DEM) assumiu o governo de Santa Catarina apoiado por uma aliança de continuidade ao mandato de Luiz Henrique da Silveira (PMDB), seu antecessor. Mas, com a nova equipe de secretários, decidiu dedicar os primeiros 120 dias de trabalho a um diagnóstico completo da máquina administrativa, com freios nos gastos e metas de contingenciamento do orçamento aprovado pela Assembleia Legislativa para 2011.
Entre as principais medidas do período, Colombo encaminhou em março um projeto de minirreforma administrativa que ainda não foi aprovado pelos deputados. No texto, o governador prevê a suspensão de 330 cargos – 45 em comissão e 285 efetivos – e a criação de 125 postos – 14 para a secretaria de Defesa Civil e 111 para a Secretaria de Justiça e Cidadania.
A proposta cria algumas novas diretorias e substitui o nome de outras. Nos primeiros dias de governo, o demista também suspendeu por 120 dias para análise o polêmico Pró-Emprego, programa de incentivo à importação criado no governo anterior.
Em uma reunião com todo o secretariado, poucos dias antes de completar cem dias de governo, Colombo avaliou o período de diagnóstico como positivo e definiu como próximo passo a visita às regiões do Estado. Após o encontro, o demista disse que pretende realizar um seminário com 450 comissionados do governo para apresentar histórias de vida dos catarinenses e sensibilizar a equipe para definir o atendimento às pessoas como prioridade de trabalho.
Para Colombo, a questão prisional é a grande prioridade de trabalho este ano. O governador disse que deverão ser contratados 1.500 policiais para ampliar o efetivo no Estado e revelou que há determinação para desativar a Penitenciária Estadual de Florianópolis, hoje estrangulada pelo crescimento urbano e palco de diversas fugas ao longo do último ano.
O governador lembrou-se das chuvas que deixaram mais de cem cidades em situação de emergência em fevereiro como um período de grande aprendizado e disse ter sido "bem atendido" pela presidente Dilma Rousseff quando precisou. "Fomos recebidos e o governo federal liberou R$ 30 milhões para a reconstrução das cidades destruídas", disse.
Nos convênios com o governo federal, Colombo também avançou na conquista de uma área para a ampliação do aeroporto Hercílio Luz, na capital. O terminal recebeu 1 milhão de passageiros acima da sua capacidade em 2010. Hoje, a ampliação está em fase de projeto e depende da cessão de uma área da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Colombo propôs uma permuta entre esse terreno e outro, de 476 mil m², pertencente às Centrais Elétricas de Santa Catarina (Celesc). A troca foi aprovada pelos deputados em prazo recorde de dois dias.
No plano político, Colombo trabalha com maioria folgada na Assembleia Legislativa, com 31 dos 40 deputados ao seu lado. Apesar dos rumores de que poderia migrar para o PSD, o governador diz que não fará nenhuma mudança até a eleição municipal de 2012.
A divisão de cargos entre PMDB, DEM e PSDB, a aliança que garantiu a vitória do governador, ainda não se encerrou. Na semana passada, próximo de completar cem dias de trabalho, Colombo ainda não tinha definido os nomes de quatro dos 36 responsáveis pelas secretarias regionais. A estrutura, criada por Luiz Henrique para descentralizar o governo, sempre foi amplamente criticada pela oposição.
"É um governo que está com cem dias e agora que está definindo as secretarias regionais. Primeiro, mostraram que elas não são tão importantes assim. Segundo, se levaram tanto tempo assim é porque a decisão do perfil não foi técnica, foi exclusivamente política. Isso confirma o conceito que ele (Colombo) tinha antes de ser governador de que as secretarias eram cabides de emprego", avalia o deputado estadual Jailson Lima da Silva (PT), segundo vice-presidente na Assembleia Legislativa e um dos oito deputados que compõem a oposição a Colombo.
Para o presidente da Assembleia Legislativa de Santa Catarina, Gelson Merísio (DEM), a primeira etapa de trabalho no governo está sendo de "aprendizado". "É diferente do governo passado, porque o governador Raimundo Colombo não participava da administração diretamente", diz.
Sobre a indefinição dos nomes de secretários regionais, Merísio avalia que é do estilo de Colombo aguardar que as soluções saiam a partir de consenso. "O Raimundo prefere debater e espera que as soluções saiam do diálogo. Isso tem de ser respeitado porque é desta maneira que ele chegou ao governo", diz.
Veículo: Jornal Valor Econômico.
Edição: 2733.
Editoria: Política.
Página: A8.
Jornalista: Julia Pitthan, de Florianópolis.