Os rompimentos de acordos e insultos ocorridos durante as negociações para votação do Código Florestal e a ausência do país nesta semana de algumas das principais lideranças da Câmara dos Deputados podem fazer com que a Casa tenha uma semana de presença de deputados mas sem grandes votações.
A oposição ameaça até um rompimento definitivo do diálogo com o governo se o Código Florestal não for votado. Sua apreciação estava prevista em acordo desenhado na semana passada que acabou sendo descumprido pelo governo por temer a aprovação de uma emenda do Democratas que alteraria o relatório elaborado pelo deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP). Além disso, quer cobrar a palavra do líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN), que disse na sessão do Código que não se votaria mais nada sem que antes ele fosse aprovado.
O governo até aceitaria votar o Código esta semana, não fosse o fato de o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), e o líder do PT, Paulo Teixeira (SP), estarem em viagem oficial à Coreia do Sul, onde participam da II Cúpula Parlamentar do G-20. O ex-presidente da Casa, deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), e o deputado Pepe Vargas (PT-RS), também integram a comitiva. O retorno está previsto para sábado.
Além disso, Henrique Alves (RN) foi para a Rússia com o vice-presidente Michel Temer, para participar de um encontro da Comissão Brasileiro-Russa de Alto Nível de Cooperação. Ele estará em Brasília somente amanhã.
Em razão disso, os governistas que ficaram no Congresso preveem dificuldades de colocar em pauta alguma proposta nesta semana.
A estratégia do governo é tentar convencer a oposição a votar alguma medida provisória garantindo-lhe a votação do Código Florestal na próxima semana. A prioridade é aprovar duas MPs: a 517, que dentre outros pontos prorroga o encargo presente nas contas de energia elétrica chamado Reserva Global de Reversão (RGR); e a 521, que contém uma emenda da relatora com as regras que flexibilizam licitações para obras da Copa do Mundo e da Olimpíada de 2016.
"Não podemos misturar o problema do Código com uma radicalização da oposição. Não vamos passar a semana em Brasília como se a Câmara não existisse. Tem condicionantes que ninguém lembrou na hora da confusão: que estaria todo mundo fora essa semana", disse ontem ao Valor o vice-líder do PMDB, Eduardo Cunha (RJ). Segundo ele, o partido quer que seja votado o Código na semana que vem e, nesta semana, alguma MP.
Da Rússia, Henrique Alves disse que mantém o que disse na semana passada, de nada votar até a decisão sobre o Código, mas que Marco Maia pediu que o Código não fosse votado sem ele presidindo a sessão. "Mantenho o que disse. Não é falta de acordo, é a ausência do presidente da Casa que impossibilita a votação nesta semana".
No entanto, o líder do DEM, ACM Neto (BA), afirmou que tentará votar o Código hoje ou amanhã e que o acordo da semana passada precisa ser cumprido: votar o Código e depois passar às outras matérias. "Não existe arremedo de acordo. Se ocorrer isso, os líderes ficarão desmoralizados. Não teria mais razão para ficar fazendo acordo", afirmou.
Veículo: Jornal Valor Econômico.
Edição: 2757.
Editoria: Política.
Página: A6.
Jornalista: Caio Junqueira, de Brasília.