Blumenau remove a lama e calcula danos

O sol forte já pela manhã foi o maior aliado e o estímulo de moradores e comerciantes no fim de semana em Blumenau. Enquanto as águas do Itajaí-Açu baixavam 12 centímetros por hora e permitiam a volta para casa, era hora de fazer a limpeza e reconstituir o que a enchente danificou. No Centro, empresários e funcionários removiam a lama e contabilizavam as perdas. Às 18h de ontem, o rio que chegou a 12,60 metros às 11h de sexta-feira voltou a ter menos de oito metros – limite oficial para que as primeiras vias alaguem na cidade.

Na Ótica Elegance, na XV de Novembro, a invasão de um metro de água afetou móveis e produtos dispostos na vitrine. A gerente Bianca Zimath ainda não tinha ideia do tamanho do prejuízo. Vizinho da ótica, o gerente da loja de cosméticos Arilson Siqueira se precaveu ao remover parte dos 7 mil itens para um lugar mais alto. Mas a enchente surpreendeu e chegou a 1,40 metro no estabelecimento. Resultado: R$ 10 mil em danos. Para limpar a cidade inteira, a prefeitura estima que gastará R$ 4,5 milhões.

Na Rua 1º de Janeiro e nas transversais, o primeiro trecho a alagar e o último a ser liberado em Blumenau, a água já dava trégua ao meio-dia de sábado e permitia a volta para casa, mesmo que ainda de bote. Sofás, guarda-roupas e entulhos nas calçadas eram a mostra dos estragos. Nas áreas mais baixas, só ontem a situação voltou ao normal.

Isolete Bizarre mora há 20 anos na Rua Ralf Grahl, ao lado da 1º de Janeiro, e nunca havia tido a casa invadida pela água. Desta vez, 80 centímetros a alcançaram. Ela, o marido e os quatro filhos se juntaram a outros 30 vizinhos que se abrigaram numa casa no alto da rua, até as águas baixarem. A região estava sem energia elétrica e água potável. Os que podiam, buscavam em galões nos pontos de distribuição ou no abrigo mais próximo.

Dos 15 abrigos abertos em Blumenau desde quinta-feira, apenas um permanecerá ativo hoje, com 45 famílias vítimas da enchente. Eledir Monteiro é uma delas. Ela se agarra ao mascote para manter o ânimo no quartinho improvisado, com dois colchões e uma TV, na Igreja Evangélica Livre. O cãozinho vira-lata, junto das duas filhas de 13 e 14 anos, foi tudo o que conseguiu resgatar quarta-feira à noite. O porão da casa onde morava, na Rua Germano Kratz Neto, no Bairro Velha Grande, desmoronou. Até as roupas ficaram soterradas. A família foi a primeira a ocupar o abrigo da Rua Cidade do Salvador, na Itoupava Norte.

A servente de limpeza é refém da chuva pela segunda vez. Em 2008, o terreno da mesma casa desbarrancou e a obrigou a sair até que o solo estabilizasse. Vinda do Oeste e viúva, não tem familiares para socorrê-la. Há três anos espera reposta por uma casa nos programas habitacionais. Mas Eledir mantém o sorriso contagiante e filosofa sobre o futuro:

– Não sei o que fazer no momento. Daqui, não sei mais para onde ir. Mas a gente tem de recomeçar. O importante é que a vida prevalece.

Veículo: Jornal de Santa Catarina.
Edição: 12320.
Editoria: Geral.
Página: 8.
Jornalista: Christian Weiss (christian.weiss@santa.com.br).

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