Promessa de 40 anos

O problema não é novo. São mais de 40 anos de planejamento para construções de barragens que pudessem conter as cheias no Vale do Itajaí. As três existentes, de Ituporanga, Taió e José Boiteux foram essenciais, mas os reservatórios insuficientes. Nas últimas décadas, a região catarinense mais afetada por enchentes ainda anseia por obras estruturais que reduzam a chance de alagamentos. O Estado admite a necessidade dessas ações, mas argumenta que a solução demandaria investimento bilionário, que extrapola a capacidade. Enquanto a mobilização política demora e não há previsão concreta para mudar a realidade, os catarinenses seguem reféns da natureza.

Ontem, os números da Defesa Civil revelavam o alcance ainda maior sobre quem foi atingido pela enchente: eram 978.070 pessoas afetadas, sendo 15.357 em abrigos e mais de 162 mil na casa de parentes ou amigos. Os número de municípios em estado de calamidade pública chegou a 10. A quantidade de municípios em situação de emergência saltou de 36 para 51.

Se houve esforço em treinamentos de técnicos e servidores públicos ou voluntários para avisar a população sobre a chance de nova enchente, o mesmo não pode ser considerado em relação à estrutura. Na avaliação do diretor do Centro Universitário de Pesquisas sobre Desastres da Universidade Federal de Santa Catarina (Ceped), Antônio Edésio Jungles, passou da hora de Santa Catarina desenvolver e colocar em prática estudos para reduzir o volume de água do Rio Itajaí-Açú que atinge cidades como Blumenau e Itajaí.

Jungles cita como fundamentais a construção de novas barragens e canais, do reflorestamento de áreas e de um controle maior da ocupação urbana no Vale. Segundo Edésio, não há projetos nesse sentido e o momento é de tomar decisão política para reverter a situação:

– Esse não é um problema novo e a ocupação urbana está só aumentando. Houve muito esforço em ações não estruturais. Vimos que as pessoas saíram das casas e mostraram que estão mais bem preparadas que em 2008. Mas, por opção política, não foi feito praticamente nada em questões estruturais.

Doutor em Engenharia, Antônio Edésio reconhece que a construção de barragens, por exemplo, gera impasse também por envolver impacto ambiental. No seu pensamento, o prejuízo à sociedade após a enchente é maior.

Segundo a Defesa Civil Estadual, para alcançar o nível máximo de proteção, SC precisaria de investimentos de US$ 1 bilhão – para chegar à cifra, foi levado em conta balanço de todos os desastres no Estado nos últimos 50 anos.

– O grande desafio de Santa Catarina é conter as ocupações e fazer trabalho interno para mudança de cultura, fazendo com que a população exerça o seu papel. O Estado precisa ampliar o seu controle das áreas de risco – disse o funcionário da Defesa Civil.

Sistema de medição dos rios também requer aprimoramento

O que espanta é que, desde 1988, há um estudo feito com especialistas do Japão (projeto da Agência de Cooperação Internacional do Japão – Jica), que propõe a construção de outras cinco barragens: duas em Trombudo Central e outras três em Benedito Novo, Apiúna e Botuverá. Mas elas não saíram do papel.

O sistema de medição dos rios também requer aprimoramento. A comunicação funciona pelo sistema de telefonia de celular e houve lapsos nos dias mais críticos. O ideal seria que operassem por satélite como nas barragens. A população pode acompanhar a situação delas em tempo real por imagens e dados no site do Departamento Estadual de Infraestrutura (Deinfra). Consta na página que não há imagens noturnas das barragens por falta de visibilidade, mas que em breve serão instalados seis holofotes em cada uma delas. Segundo o Deinfra, a falta de dados noturnos atinge apenas as fotos geradas para o site e o departamento tem acompanhamento noturno das condições dos reservatórios.

Veículo: Jornal de Santa Catarina.
Edição: 12321.
Editoria: Geral.
Página: 10.
Jornalista: Diogo Vargas (diogo.vargas@gruporbs.com.br).