Quando o nível do Rio Itajaí-Açu atingiu 8,5 metros terça-feira, em Blumenau, a casa de Carlos Antônio Pereira, na Rua 1º de Janeiro, começou a ser tomada pela água às 19h30min, quatro horas antes do previsto pela Defesa Civil. O erro nos cálculos ocorreu devido a uma falha de comunicação entre a central, na Furb, e as 13 estações de telemetria com transmissão de dados via celular instaladas no Vale do Itajaí.
– O alerta indicava que o rio atingiria 8 metros só à meia-noite. Mas de repente a água já estava na calçada. Se a previsão é para estar furada, a gente não precisa dela – desabafa.
Desde 22 de julho, das 13 estações de telemetria do Vale, apenas três estão enviando dados em tempo real ao Centro de Operação do Sistema de Alerta (Ceops), que faz o monitoramento da Bacia do Rio Itajaí-Açu e repassa os cálculos à Defesa Civil. A instabilidade no sistema de telefonia celular impede a transmissão dos dados a cada 15 minutos, como deveria ocorrer.
Terça-feira, a estação de Blumenau, sob a Ponte Adolfo Konder, havia enviado o último dado às 9h30min. Por isso, a coleta das medições tem sido feita manualmente por voluntários e repassada por telefone. Engenheiro hidrólogo do Ceops, professor Ademar Cordeiro admite que houve falhas na medição entre 16h e 17h devido à ondulação do rio no local da régua, gerando o erro da previsão.
– Mesmo com toda essa estrutura à nossa disposição, estamos trabalhando como se fazia na década de 1970, na caneta. Sem os dados de hora em hora, ficamos no escuro para fazer a projeção – explica.
O nível do Itajaí-Açu em Blumenau é influenciado pelas condições do clima em Timbó e Apiúna, de onde as águas demoram entre seis e oito horas para chegar. As previsões levam em consideração fatores como a quantidade de chuva, o nível da água e a velocidade de vazão do rio, que permitem uma projeção de até oito horas de antecedência.
Defesa Civil descarta revisão das cotas de enchente
O rio subia numa média de 20 centímetros por hora, terça-feira, quando a previsão indicava chegar a 8 metros à meia-noite. Mas entre às 17h e 18h houve um acréscimo de 55 centímetros de água, que provocou nova projeção para alcançar 8,80 metros à 1h. Medida novamente imprecisa, pois o pico da cheia foi às 2h, com 8,5 metros.
Catarina Becker, dona do primeiro terreno a alagar na Rua 1º de Janeiro, teve a casa inundada mais de 10 vezes desde 1980. Ainda na terça-feira, a moradora falou ao Santa sobre a falha nas cotas de enchente:
– Faz tempo que, com 7 metros, já começa a entrar água nas casas.
De acordo com o mapa de cotas de enchente de Blumenau, a Rua 1º de Janeiro só deveria começar a alagar com o rio chegando a 8 metros.
O diretor da Defesa Civil de Blumenau, José Egídio de Borba, explica que não há necessidade de rever as cotas, pois ela só muda se houver escavação ou aterramento da rua:
– Na 1º de Janeiro há casas que estão abaixo do nível mais baixo da rua, que é 8 metros, por isso com 7,6 metros já estão pegando água.
O QUE É TELEMETRIA |
É a monitoramento do nível dos rios e ribeirões da Bacia do Rio Itajaí-Açu. Desde 2009, 16 sensores foram instalados no Vale para contribuir com a coleta dos dados em tempo real de nível da água, volume de chuvas e previsão meteorológica. Destes, 13 deveriam transmitir os dados via telefone celular e outros três via satélite. Porém, a transmissão via satélite nunca foi ativada. O controle dos dados é feito pelo Ceops, na Furb |
Veículo: Jornal de Santa Catarina.
Edição: 12311.
Editoria: Geral.
Página: 14.
Jornalista: Cristian Weiss (cristian.weiss@santa.com.br).