Um século de cheias

Era tarde de sábado quando o temporal chegou com fúria. O Rio Itajaí-Açu, que dias antes encorpara seu leito, transbordou. Chuvas que persistiam no Vale do Itajaí intensificaram-se nos três últimos dias a ponto de invadir as casas entre Ibirama e Itajaí. No interior dos cômodos, utensílios de cozinha, livros, mesas, armários e roupas se misturavam em redemoinhos na água barrenta que arrombava portas e janelas. Cercada por um oceano marrom que não parava de subir, a população desesperou-se ao ouvir notícias sobre residências desmoronadas e perda total de mercadorias.

Embora pareçam tão frescas na memória dos moradores do Vale do Itajaí – resultado da cheia do último dia 8 de setembro -, as cenas dramáticas descritas acima estão registradas nos jornais e na memória de quem viveu as consequências da enchente de 1911. Há exatos 100 anos, completados neste domingo, a segunda maior enchente que se tem registro na história de Blumenau destruiu casas, condenou safras, apagou sonhos e desmanchou conquistas de anos de trabalho.

O rio chegaria ao pico de 16,90 metros. O despreparo e a incapacidade de previsão dos desastres naquela época revelaram nas décadas seguintes uma lição que o Vale não iria aprender nem em um século: conviver com a cheia.

– O próprio Doutor Blumenau, que sabia da ocorrência das enchentes, insistiu em construir a colônia no Vale. Em 161 anos, tivemos quase 80 cheias e já deveríamos ter aprendido com elas. A história mostra que elas fazem parte da nossa rotina – avalia a diretora do Departamento Histórico do Município, Sueli Petry.

Era 30 de setembro de 1911 quando iniciou a tempestade sobre os municípios da bacia do Rio Itajaí-Açu. A enchente já tinha tomado as primeiras ruas e subia gradativamente, mas as pessoas se agarravam à esperança de que as águas fossem baixar. Telegramas enviados do interior aumentaram o desespero dos moradores que não esperavam tamanho desastre. Mesmo os mais velhos, que enfrentaram a cheia de 1880 – a maior de todas em Blumenau, com o pico de 17,10 metros -, estavam descrentes de que o Itajaí-Açu pudesse evoluir como há três décadas. Estavam enganados.

Veículo: Jornal de Santa Catarina.
Edição: 12337.
Editoria: Geral.
Página: 16.
Jornalista: Cristian Weiss (cristian.weiss@santa.com.br).