Fuga e sobrevivência

Ao meio-dia de segunda-feira, 2 de outubro, o rio alcançou 16,90 metros em Blumenau. Mas tão rápido quanto veio, a tormenta se foi. As águas escoaram seis metros em 23 horas e expuseram a destruição que assolou o município, com então 30 anos de emancipação. Das casas, salvou-se somente o que era mais precioso e simples de transportar. Pianos, louças de porcelana e móveis de madeira de lei, utensílios para durar a vida toda, foram engolidos pela água.

O mesmo rio que fertilizara o solo e transportara as riquezas da colônia desde 1850 tornava-se o tirano. O mugido desesperado das vacas e o grunhido dos porcos famintos – descreveu à época o Jornal Blumenauer Zeitung -, lembrava um abate coletivo. Os moradores que abandonaram as casas, alojaram-se nas matas. Barracas de folhas de bananeira serviram de abrigo por 15 dias. Quem levou consigo os animais, abateu-os para sustento. Outros aproveitaram galinhas e bois afogados para matar a fome. O agricultor Johann Ohf ficou ilhado no sítio que mantinha na Velha e teve de adiantar a colheita para alimentar a família.

– A cidade ficou por dias sem ter comércio aberto. Ele teve de colher as hortaliças do sítio até que tudo se normalizasse. Foi a segurança da família – conta o filho Henrique Ohf, de 89 anos.

Itajaí, que tanto sofreu com a enchente de 1880, em 1911 teve apenas alagamentos nas ruas, muito mais pela influência das marés do que pela força da enxurrada. Em Blumenau, casas com as marcas da cheia de 30 anos antes foram novamente atingidas. A Prainha perdeu parte da margem. Por todo o Vale, pontes foram arrancadas e estradas sumiram, engolidas pela terra desprendida dos morros. Não houve mortes. Os padres franciscanos cuidaram de pelo menos 200 desabrigados e as irmãs da Divina Providência, mais de 100.

Veículo: Jornal de Santa Catarina.
Edição: 12337.
Editoria: Geral.
Página: 16.
Jornalista: Cristian Weiss (cristian.weiss@santa.com.br).