O Vale do Itajaí estará com os olhos voltados para Florianópolis, amanhã, quando o Conselho Universitário da UFSC (CUn) vai conhecer e discutir pela primeira vez a proposta de implantação gradual de um campus em Blumenau, na estrutura existente na Furb. A questão ganhou status de bandeira regional em agosto do ano passado, quando a presidente Dilma Rousseff (PT) anunciou o plano de trazer a UFSC para o Vale, mas desde então patina em conflitos de interesses. Ao reitor da Furb, João Natel, caberá se posicionar, na reunião, sobre o projeto protocolado em dezembro no Ministério da Educação (MEC), que prevê a instalação gradual de 6,3 mil novas vagas até 2020, mas não aborda temas como a cessão de professores, a absorção dos atuais alunos e a incorporação da estrutura da Furb.
– A proposta está incompleta, justamente porque ela não tratou de questões fundamentais para nós, da nossa história, do nosso patrimônio. Não podemos virar as costas para esta história – disse o prefeito João Paulo Kleinübing (PSD).
Kleinübing acredita que ainda seja possível reverter o projeto protocolado no MEC. Bastaria, segundo ele, que os integrantes da comissão tripartite, formada por Furb, UFSC e prefeitura, se unam e apresentem uma nova sugestão. Para o prefeito, é viável trabalhar com prazos mais curtos e que "abracem toda a universidade, não apenas uma parte dela".
Os desconfortos em relação à proposta encaminhada ao governo federal vieram à tona em 27 de fevereiro, quando o Santa publicou reportagem detalhando os passos da implantação de um campus federal. Em reunião da reitoria, no mesmo dia, foi esclarecido, internamente, que esta proposta está inserida no processo de expansão do Ensino Superior do governo federal e colocaria Blumenau como mais um campus na expansão feita pela UFSC.
– É uma proposição que inclui a Furb no plano de expansão da Federal- confirma o coordenador do Conselho de Planejamento da Furb (Coplan), professor Pedro Paulo Wilhelm.
Para que a proposta protocolada no MEC tenha validade, é preciso que esta passe pelo crivo tanto do Conselho Universitário da Furb (Consuni) quanto da UFSC. Até agora, oficialmente, nenhum dos conselhos teve acesso ao documento. Portanto, na prática, não teria validade. A avaliação é de ela foi protocolado "a toque de caixa" para apresentá-la à antiga equipe do MEC. Ou seja, ocorreu antes da troca de ministro – saiu Fernando Haddad para a entrada de Aloizio Mercadante – e do secretário de Educação Superior do MEC – saiu Luiz Cláudio Costa para a entrada de Amaro Linz. E antes também da troca de reitores da UFSC: Alvaro Prata deixará o cargo em maio e em seu lugar entra Roselane Neckel.
Em nota oficial emitida dia 27 de fevereiro, o reitor da Furb, João Natel, disse que "desde que a proposta foi protocolada em Brasília, a reitoria tem defendido a necessidade de propor alterações que contemplem o que foi deliberado pelo Conselho Universitário". Este defende a incorporação total da universidade blumenauense no prazo de 36 meses. Após a emissão da nota, Natel preferiu não se manifestar mais sobre o assunto. A assessoria de imprensa da Furb disse que ele falaria apenas após a reunião de amanhã.
A atuação da administração da Furb em relação à proposta é questionada. Um assessor próximo à reitoria, que pediu para não ser identificado, chegou a classificar a administração como "inerte".
– A Furb tinha que se organizar e se posicionar, mas se manteve inerte. A UFSC esperou um tempo e como não houve posição, eles tinham compromisso político e entregaram o documento – disse.
Dois grupos internos de trabalho na Furb estão previstos
A situação já gerou demissões no comando da Furb. Um dos primeiros a sair foi o professor António André Chivanga Barros. Até o final de fevereiro ele respondia pela pró-reitoria de Ensino de Graduação da universidade. Desde então, está se dedicando exclusivamente ao departamento de Engenharia Química,
– Este processo foi conturbado e confuso, conduzido pelos dois reitores. E, politicamente, isso é muito ruim, porque o MEC já está com uma proposta inadequada e frustrante – disse um integrante do Consuni, que prefere o anonimato.
Espera-se que a reunião do Conselho Universitário da UFSC de amanhã seja um divisor de águas. A partir daí, é possível que os dois grupos internos da Furb – o técnico e o acadêmico – comecem de fato a trabalhar.
A criação destas duas equipes, que inclui representantes da prefeitura de Blumenau, foi sugerida pela administração da Furb em novembro do ano passado, após visita da reitoria da UFSC (inclusive do reitor Alvaro Prata). Na ocasião, foram apresentadas duas listas totalizando 11 cursos de graduação para compor o modelo de fusão das duas instituições. De lá para cá, apenas o grupo técnico (ainda incompleto, porque falta uma pessoa da área jurídica, que tratará basicamente da cessão de professores) se reuniu. As reuniões ocorreram apenas neste ano. Estima-se que dentro de um mês uma contraproposta à ideia que tramita no MEC feita pelo grupo da Furb possa estar concluída.
Veículo: Jornal de Santa Catarina
Edição: 12475
Editoria: Política
Página: 4
Jornalista: Giovana Pietrzacka