O geólogo Juarez Aumond, professor da Furb, é convidado especial do 2º Fórum Nacional de Prevenção e Gerenciamento em Eventos Extremos, que ocorre neste sábado em Teresópolis (RJ). A cidade, que em janeiro de 2011 foi alvo do maior desastre natural já ocorrido no Brasil, com quase mil mortos e 300 desaparecidos, vai discutir o impacto dos eventos climáticos e medidas de prevenção.
Estudioso do assunto, Aumond será palestrante do fórum pela segunda vez. Neste sábado, as discussões ocorrem com autoridades de todo o Brasil.
Nesta entrevista ao Jornal de Santa Catarina, ele fala sobre os assuntos que deverá tratar no Rio de Janeiro e compara a tragédia de Teresópolis com a que assolou o Vale. Aumond é taxativo quando o assunto é a solução para os desastres naturais: prevenção, diz o especialista.
Jornal de Santa Catarina – Há uma razão para os desastres terem se tornado mais comuns?
Juarez Aumond – Não nos preparamos, desmatamos tudo. Recordo que no Vale do Itajaí, em um levantamento que fiz, 82% das perdas de vidas humanas foram causadas pelo próprio homem. As mudanças climáticas sempre aconteceram. O que nós estamos fazendo é intensificá-las. Hoje ocupamos muito mais áreas frágeis, fundos de vales, encostas.
Santa – Quais as semelhanças entre a tragédia do Vale do Itajaí em 2008 e a que atingiu Teresópolis em 2011?
Aumond – Primeiro, a ocupação de áreas ambientalmente frágeis. Segundo, a morfologia do terreno: são regiões muito dobradas, muito amarrotadas geograficamente, com muitas montanhas. A diferença é que em Teresópolis os solos são menos profundos. Em Santa Catarina, a capa de solo é muito maior. Tem um detalhe: em 2008 choveram 560 mm em Blumenau, no Baú foram 670 mm em três dias. Em Teresópolis foram 180 mm, menos de um terço. No entanto, a tragédia matou quase mil pessoas, fora as cerca de 300 que nunca foram encontradas.
Santa – O que se aprendeu com esses desastres naturais?
Aumond – É importante que se diga que as gerações até hoje nunca tinham passado por tragédias desse porte, e nem tão frequentes. No passado até ocorriam deslizamentos, mas não havia tantas pessoas morando em áreas de risco. Hoje, com o crescimento populacional, se não tomarmos urgentes providências no processo de urbanização das cidades, teremos um aumento cada vez maior de perda de vidas. Podem-se ocupar encostas, mas desde que adaptemos a engenharia e a arquitetura ao modelado do terreno, e não o contrário.
Santa – Qual possibilidade de tragédias como a de 2008 ocorrerem de novo?
Aumond – Eu diria que é total. A diferença é que hoje na Defesa Civil os controles são melhores. A chave é a prevenção, precisamos de ações preventivas e educação ambiental. Se nós tivéssemos respeitado o Código Ambiental em Santa Catarina, certamente não teríamos estas mortes todas. O código tem exatamente esta função, definir áreas ambientalmente frágeis, que precisam ser conservadas.
Santa – Há alguma forma de conter definitivamente os desastres naturais?
Aumond – Esses processos sempre aconteceram e vão continuar acontecendo. Quando se analisa o passado, a gente se dá conta que na região há indícios na morfologia do terreno, de que esses eventos extremos sempre aconteceram, há milhões de anos. Agora, são cada vez mais frequentes e intensos em função das mudanças climáticas. Já atingimos um ponto de desequilíbrio das mudanças climáticas. Só resta uma alternativa: nos prepararmos preventivamente para novos desastres.
Veículo: Jornal de Santa Catarina.
Edição: 12486.
Editoria: Geral.
Página: 22.
Jornalista: Dagmara Spautz (dagmara.spautz@santa.com.br).