Com menos de 2 mil habitantes, o município de Cunhataí, no oeste catarinense, escolheu como prefeito o ex-motorista de caminhão Marcos Antônio Theisen (PSD). Será o terceiro mandato de Theisen, um político que a cada eleição investe mais em educação – ao menos na sua própria formação.
Quando elegeu-se pela primeira vez, em 2000, Theisen tinha apenas o "primeiro grau completo", como informa o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ainda na antiga denominação do ensino fundamental. Em 2004, quando conquistou a reeleição, Theisen havia subido mais um degrau em sua escolaridade e comunicava que tinha o ensino "médio completo". Agora, ao concorrer ao terceiro mandato, o catarinense surgiu na disputa com o ensino "superior completo".
A história do ex-caminhoneiro que ganhou o diploma universitário é o símbolo de uma transformação no perfil dos prefeitos brasileiros. A nova safra que tomará posse em janeiro de 2013 será a mais escolarizada dos últimos anos. Cerca de metade dos eleitos (48,9%) conta com o ensino superior completo, maior índice já registrado. O número reflete o crescimento progressivo da escolaridade dos chefes do Executivo municipal, que era de 37,5%, em 2000, passou para 40,7%, em 2004, e chegou a 43,9%, em 2008, de acordo com levantamento do Valor Data a partir de informações do TSE.
Marcos Antônio Theisen formou-se em administração em 2008, no último ano de seu segundo mandato. Ele conta que estudou enquanto governava a cidade, numa "faculdade à distância", oferecida pela Universidade Norte do Paraná (Unopar). Assistia a uma aula por semana, conduzida por um tutor que tirava dúvidas online, e fazia as provas presenciais em São Carlos, a 20 quilômetros de Cunhataí. "Foi bem forçado o negócio, viu? Era uma coisa nova, entrei na primeira turma à distância. Não é fácil", diz Theisen. Ele lembra que teve como "colegas de turma" os também prefeitos ou ex-prefeitos dos municípios de Planalto Alegre, Guatambú e São Carlos.
Theisen já havia feito o ensino médio, durante o primeiro mandato, também num curso de rapidíssima duração. Em vez dos três anos regulares, concluiu em menos de um. "Para fazer o segundo grau, aproveitei um sistema de provões. Fui umas três ou quatro vezes a Pato Branco [no Paraná, a três horas de carro de Cunhataí] e para cada disciplina respondia entre 40 e 60 perguntas. Precisava de 60% de acerto. Aí matava a matéria. Eram duas ou três [disciplinas] a cada provão", diz o pessedista, eleito com 50,38%, por uma diferença de apenas 12 votos (799 a 787).
Se o diploma fez diferença para a vitória? Theisen diz que não. "Não influencia muito, é um benefício pessoal. Você é visto com outros olhos. E tem mais assuntos para falar", afirma. Na verdade, sem o diploma universitário, Theisen teve muito mais facilidade. Nas duas primeiras vitórias, sua diferença para o segundo lugar foi bem mais folgada: 351 votos, em 2000, e 354, em 2004. "Agora eu concorri contra a máquina [do atual prefeito]", diz.
O hoje político profissional começou a trabalhar aos 16 anos, na oficina mecânica do pai, e aos 18 tornou-se motorista de caminhão de uma cooperativa agrícola, onde foi promovido a gerente da unidade de grãos, e ficou mais conhecido da população local.
Apesar de ter investido no aumento de escolaridade, Theisen diz que mesmo sem curso universitário é possível ser um bom governante, como ocorreu com o ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva. "Não pode ser analfabeto. Mas se tem ou não estudo, não afeta tanto. O mais importante é se for mal assessorado. Aí ele quebra", diz.
Os prefeitos brasileiros estão cada vez mais escolarizados seja pela escolha de novos candidatos com formação universitária, seja pela eleição de antigos que aperfeiçoaram seus currículos, como Theisen, o caso que mais chama atenção entre os eleitos deste ano.
O ganho de escolaridade levou a um crescimento de 11,4 pontos percentuais na taxa de prefeitos com ensino superior completo num período de 12 anos – uma subida de quase um ponto por ano.
É um forte aumento, ainda que os 48,9% de prefeitos diplomados ainda estejam bem longe da média dos deputados federais (78,7%), senadores (81,5%) e governadores (85,2%) eleitos em 2010.
Por outro lado, a proporção de prefeitos com formação superior varia muito por Estado: das mais altas em São Paulo (60,9%) e Mato Grosso do Sul (65,8%) às mais baixas, no Amapá (31,2%) e Amazonas (32,2%).
Veículo: Jornal Valor Econômico.
Edição: 3136.
Editoria: Política.
Página: A9.
Jornalista: Cristian Klein, de São Paulo.